quarta-feira, 29 de março de 2006

Stanislaw Lem, escritor

foto Wojciech Zemek, 1966

O escritor polonês Stanislaw Lem morreu antes de ontem aos 84 anos. Ele é o autor de um livro de ficção científica no mínimo muito perturbador, "Solaris", lançado em 1961. Até hoje já vendeu mais de 25 milhões de exemplares. No Brasil a tradução é de José Sanz, editado pela Relume Dumará.

O livro discute os limites da ciência ao utilizar uma metáfora da água. Um astronauta vai para uma estação espacial próxima de um planeta coberto por um oceano que se comunica com os humanos. Solaris é o planeta cujas duas luas, por sua interação com esse oceano, um mar sem vida, criam um cérebro capaz de trazer imagens do inconsciente humano à vida. O horror da situação é que essas figuras materializadas são aquelas lembradas com mais culpa e vergonha. Assim, um astronauta é confrontado por uma namorada que se matou; e ela não percebe que, embora “exista”, não é real.

Quando li o livro, no começo da década de 80, fiquei vários dias não sei se impressionado ou perturbado, ou as duas coisas juntas, com as fortes imagens que a leitura me passou. Meses depois voltei e folhei algumas páginas e fiquei gostando mais ainda daquele, digamos, romance de ficção científica. Pouco tempo depois vi o filme baseado no livro. Dirigido pelo russo Andrei Tarkovsky, em 1972, o filme, também intitulado "Solaris", é igualmente belo, grandioso e... perturbador. E aqui não cabe a comparação banal de que um é melhor do que o outro. São duas obras magníficas, que se traduzem, que se refletem e que se pertencem. O americano Steven Sorderberg refilmou a história em 2002, com George Clooney no papel que foi do desconhecido lituano Donatas Banionis. Saí da sessão inquieto e admirado com as imagens atualizadas, numa produção impecável, uma direção cuidadosa e sensível, mas com vontade de ir à locadora e ver se achava o dvd do Tarkovsky no palheiro dos lançamentos blockbusters. Claro que não encontrei. Mas o filme foi lançado numa caixa de dvds do cineasta, juntamente com outro ótimo, "O espelho" (Zerkalo), de 1974.

Um compatriota de Lem, o poeta, crítico e Prêmio Nobel Czeslaw Milosz disse que esse livro parafraseava “os estágios de uma vida” enquanto intensificava “a angústia daquilo que normalmente é escondido pela aceitação rotineira do inevitável”.

Um comentário:

Anônimo disse...

não conheço a primeira filmagem de Solaris, fiquei curioso