quarta-feira, 22 de março de 2006

Primo Carbonari, documentarista

foto jornal O Globo

O documentarista Primo Carbonari morreu hoje de causas naturais aos 86 anos, em sua casa, na Barra Funda, zona oeste de São Paulo. Nascido em 1º de janeiro de 1920, Carbonari foi responsável durante 45 anos pelo cinejornal "Amplavisão", que era veiculado nos cinemas antes dos filmes que estavam em cartaz. Foram mais de 3 mil edições do cinejornal, que trazia as mais variadas notícias.

Filho de imigrantes italianos pobres, foi um dos primeiros com uma idéia na cabeça e, sempre, uma câmera na mão. Acabou se transformando num dos maiores documentaristas de São Paulo, embora talvez nem tivesse sido essa a intenção.
O acervo, riquíssimo em imagens, começou a ser recuperado há dois anos, tendo à frente o crítico Jean-Claude Bernadett e o cineasta Eugênio Puppo, e parte dele vai virar um longa-metragem. Só de cinejornal foram três mil edições. Parte do material está fragmentada, mas o que já se pode ver sugere uma extraordinária riqueza de imagens.

No final dos anos 80 fui a sua casa-produtora fazer uma pesquisa para um documentário. Impressionou-me aquele senhor gordo, um pouco reservado, mas atencioso e bastante entusiasmado com o interesse da visita. Usava com naturalidade pares de óculos diferentes, improvisados, mais apropriados para trabalhar em um mundo minúsculo de peças de relógios. Carbonari precisava de lentes grossas para manusear as películas, ajustar as lentes das câmeras, acionar a moviola, e ler jornais. E ele me guiava pelos labirintos de corredores abarrotados de estantes de ferro com latas e latas de filmes. O cheiro de celulóide poderia ser sufocante para quem não fosse um apaixonado pela magia do cinema. Milhares de imagens, que eu deveria ter visto muitas, na minha frente, e o seu autor ali, ao vivo, ele que fazia parte de minha memória afetiva, dos cinejornais antes dos filmes de western spaghetti.

Carbonari será enterrado hoje no cemitério do Araçá.

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