O 3º Festival de Cinema de Campo Grande, o FestCine Pantanal, que começou dia 10 de março e terminará no dia 3 de abril, prestará amanhã uma homenagem ao cineasta Roberto Farias. Aos 74 anos de idade, o diretor continua trabalhando, mais exatamente na televisão, onde dirige minisséries e especiais.
Farias iniciou sua carreira nos anos 50, como assistente de direção de José Carlos Burle, Watson Macedo, J.B.Tanko e Carlos Hugo Christensen. Sua estréia em longa foi "Rico ri à toa", em 1957, e nessas quase cinco décadas de trabalho, dirigiu muitos filmes que particularmente marcaram época, como "Cidade ameaçada", de 1959, "O assalto ao trem pagador", 1962, a trilogia sobre Roberto Carlos, no final dos anos sessenta e começo de setenta, "Selva Trágica", 1966, que foi inteiramente rodado em Ponta Porã, o que serviu de gancho para a homenagem. O filme, que será exibido no Festival, reporta-se à escravidão na fronteira do Brasil com o Paraguai com monopólio da exploração da erva-mate.
Sem desconsiderar a relevância dos seus primeiros filmes, o seu trabalho mais importante continua sendo "Pra frente, Brasil", de 1981, corajosamente realizado em pleno governo do general Fiqueiredo. O cineasta fora diretor-geral da Embrafilme no governo anterior, do outro general de plantão, Ernesto Geisel. E o filme foi produzido com dinheiro da própria Embrafilme. Baseado em argumento do irmão Reginaldo Faria e de Paulo Mendonça, o roteiro descia aos porões do regime militar com audácia surpreendente, desafiando a censura e colocando à prova a abertura política na área cultural. No ano "milagroso" de 1970 o Brasil inteiro torcia com a seleção de futebol no México, enquanto prisioneiros políticos eram torturados e inocentes vítimas dessa arbitrariedade. Todos esses acontecimentos são vistos no filme pela ótica de uma família quando um dos seus integrantes, um pacato trabalhador da classe média, é confundido com um ativista político e "desaparece".
Na próxima sexta-feira, dia 31, "aniversário" de 42 anos do golpe, o cineasta fará uma palestra com o tema "O cinema em sua dimensão histórica no Brasil".
3 comentários:
Ô, Davi, pelo menos você foi, viu pouco mas viu!
Quanto ao Roberto Farias, é uma pena que a gente só lembre dele pela atuação na Globo... mas o passado dele não o condena: filmes com "Assalto ao trem pagador" é um clássico, também "Selva trágica", e importante "Pra frente, Brasil".
Ih, cara, pena que o Roberto Farias ficou parece que pra sempre na Globo. Ele poderia continuar fazendo mais filmes e menos mini-série. Concordo com você que Pra frente Brasil é um filme importante, mas gosto muito do Assalto ao trem que cinema puro.
Prá Frente Brasil é um dos melhores filmes políticos, quase um filme de Costa-Gravas.
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