sábado, 2 de maio de 2020

cidadão do teatro

foto Ann Mari, Dublin
Em abril de 2008, o diretor de teatro e dramaturgo Augusto Boal esteve no Abbey Theatre, em Dublin, para receber o Prêmio Crossborder For Peace and Democracy. Emocionado, falou sobre sua vida nos palcos, perseguido pelo regime militar do Golpe de 64, enfrentando censura, prisão, tortura... Relatou um pouco da vida no exílio a partir de 1971, e o retorno ao Brasil em 1986.
Expoente da vanguarda artística nos anos 50 e 60, Boal foi responsável pela concepção do Teatro do Oprimido, que buscava aliar à prática artística uma ação social e política, calcada na educação, na cidadania, nos princípios pedagógicos. Dizia que “atores somos todos nós, e cidadão não é aquele que vive em sociedade: é aquele que a transforma.”
O jornal inglês The Guardian o considera “reinventor do teatro político, uma figura internacional tão importante quanto Brecht ou Stanislavski." No mesmo ano da premiação na Irlanda, seu nome foi lembrado para o Nobel da Paz.
Em março de 2009, Boal foi nomeado pela Unesco Embaixador Mundial do Teatro. Não teve tempo de exercer seu trabalho: pouco depois, na madrugada de 2 de maio, faleceu no hospital, vítima de leucemia. Tinha 78 anos.
Foi para ele que Chico Buarque compôs com Francis Hime Meu caro amigo, gravada no disco Meus caros amigos, 1976. Morando em Lisboa, Boal recebeu a carta em forma de música, "notícias nessa fita", com a saudade da largura de tanto mar, tanto mar...
Atualizando o aplicativo, meu caro amigo Boal, aqui na terra nestes tempos de vírus no ar e verme na presidência, "muita careta pra engolir a transação / e a gente tá engolindo cada sapo no caminho / e a gente vai se amando que, também, sem um carinho / ninguém segura esse rojão".

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