Em 1981 o compositor e escritor Aldir Blanc lançou seu segundo livro, Porta de tinturaria, editado pela Codecri, onde reúne crônicas publicadas no jornal O Pasquim naqueles terríveis anos de ditadura militar.
A prosa afiada e bem humorada de Aldir faz um retrato da cidade do Rio de Janeiro, através das histórias pelas ruas, bares, esquinas, onde encontramos os personagens reais, como Ceceu Rico, Ambrósio, Cicinho, Penteado, todos captados pelo olhar cúmplice do autor.
Aldir narra em terceira pessoa, mas é um deles, está organicamente com eles naquele universo urbano. "Acendo um cigarro molhado de chuva até os ossos / e alguém me pede fogo - é um dos nossos", como encharcado de poesia disse em Vida noturna, que João Bosco gravou no disco Galos de briga, 1976.
Em 2017, por ocasião do aniversário do cronista, a Mórula Editorial relança o livro na coleção Aldir 70, incluindo também Rua dos Artistas e arredores, sua estreia em 1978, uma edição ampliada do comovente Vila Isabel, inventário da infância, de 1996, e os últimos A gabinete do doutor Blanc: sobre jazz, literatura e outros improvisos e Direto do balcão, respectivamente de 2016 e 2017.
A reedição mantém o prefácio de Paulo Emílio Sales Gomes, traz o texto que o dramaturgo Mário Prata escreveu para a quarta capa, onde resume com perfeição a impressionante verve de cronista que Aldir Blanc manifesta tanto nas letras de música quanto na prosa.
Que dor pungente, Aldir, essa manhã que caiu feito um viaduto. E a ponta desse torturante band-aid no calcanhar da alma com sua partida.
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