quarta-feira, 1 de maio de 2019

o espelho que miramos

foto: Isabella Gresser
Na opinião do filósofo e teórico musical sul-coreano Byung-Chul Han, a sociedade moderna passou do “dever fazer” para o “poder fazer”. “Vive-se com a angústia de não estar fazendo tudo o que poderia ser feito”, e se você não é um vencedor, a culpa é sua. “Hoje a pessoa explora a si mesma achando que está se realizando; é a lógica traiçoeira do neoliberalismo”. E a consequência: “Não há mais contra quem direcionar a revolução, a repressão não vem mais dos outros”. É “a alienação de si mesmo”.
A dependência das redes sociais, e nelas a necessidade das pessoas de obterem uma maior quantidade de “likes” em postagens que expõem em praça pública virtual suas relações pessoais, dos namoros ao filho recém-nascido, os pratos preferidos na mesa posta, os comprovantes de check-in de viagens seja ao exterior ou à pacata cidade de Miracema do Norte, a selfie em frente ao espelho na academia, o abraço com a banca de aprovação de doutorado... É preciso curtidas e mais curtidas para que tudo ao final do dia seja “validado”.
Essas pontuações dos costumes do mundo moderno com a internet têm em Byung-Chul Han uma pertinente e necessária reflexão. O seu pensamento dissecador da sociedade do hiperconsumismo, faz, por exemplo, uma comparação inquietante com o romance distópico 1984, de George Orwell, publicado em 1948: naquele universo “a sociedade era consciente de que estava sendo dominada; hoje não temos nem essa consciência de dominação.”
O filósofo de 59 anos, residente na Alemanha, tem mais de dez livros publicados, onde encontramos temas como ética, filosofia social, fenomenologia, teoria cultural, estética, religião... sempre tratando do mundo e tempo em que vivemos.
Realista sem ser fatalista, Han alerta a cada leitura. Em um dos seus livros recentes, Sociedade da Transparência, lançado no Brasil em 2017, ele observa e sobreavisa que “as coisas tornam-se transparentes quando abandonam toda a negatividade, quando se alisam e aplanam, quando se inserem sem resistência na corrente lisa do capital, da comunicação e da informação."

Nenhum comentário: