Imaginem Carmen Miranda com seus balangandãs dançando num palco em ritmo inspirado no universo Budô japonês... Essa imagem cristalizou-se na peça Foi Carmen, dirigida por Antunes Filho, em 2008.
O sempre inventivo diretor mesclou duas culturas completamente opostas que convergem num mesmo espaço, numa mesma gramática de teatro-dança, de gestualidades que refletem e desconstroem. Ao mesmo tempo que homenageia a figura mítica de Carmen Miranda, referencia o mestre coreógrafo Kazuo Ohno, que junto com Tatsumi Hijikata, revolucionou a dança que surgiu no Japão pós-guerra.
Na ousada concepção de Antunes, Carmen Miranda não é biografada no palco: ela é grafada em cena com o minimalismo do imaginário dos personagens, uma menina que sonha ser artista, um malandro fanático, uma passista... e a plateia.
A lembrança dessa montagem teatral foi a primeira que me veio ao saber agora da morte de Antunes Filho, aos 89 anos, neste final de noite de quinta-feira, coincidentemente dez anos depois da partida de outro mestre, Augusto Boal.
Nenhum comentário:
Postar um comentário