foto Acervo Instituto Moreira Salles
“Lygia, eu estou péssima. Estou doentíssima, acho que vou morrer, venha me ver, pelo amor de Deus! Quero demais morrer segurando a mão da Lygia, porque sei que ela vai entender tudo na hora H. Ela vai dizer: ‘Hilda, fica calma e tal que é assim mesmo.’”
- poeta Hilda Hilst em seus escritos sobre Lygia Fagundes Teles. Textos, cartas e depoimentos entre as duas escritores foram publicados nos Cadernos de Literatura Brasileira, do Instituto Moreira Salles, em 1999.
Elas foram grandes amigas durante mais de 50 anos. Conheceram-se no final da década de 40, quando Lygia foi homenageada numa festa promovida pela Academia Brasileira de Letras, ao receber o Prêmio Afonso Arinos pelo livro O cacto vermelho. Hilda não tão conhecida, mas já daquele jeito descolada, chegou furando a fila, passando na frente de Cecília Meireles que usava um turbante negro tipo indiano, e apresentou-se: “Sou Hilda Hilst, poeta. Vim saudá-la em nome da nossa Academia do Largo de São Francisco”. Pronto! Selou-se a amizade. Lygia encantou-se com aquela “jovem muito loura e fina, os grandes olhos verdes com uma expressão decidida. Quase arrogante”, como escreveu em um dos textos.
Muitos não entendiam como duas pessoas de temperamentos distintos se davam tão bem. Hilda não perdia tempo explicando, dizia que “a gente tem uma amizade, sei lá, pode ser até de outras vidas, embora sejamos muito diferentes. Aí, por exemplo, eu bebo muito, ela não bebe nada. Ela diz: ‘Eu vou beber um vinhozinho’. Mas eu já estou bebendo uma garrafa e vários uísques.”
Lygia Fagundes Teles completou 96 anos em 19 de abril, no mesmo mês em que Hilda Hilst faria 89, dia 21. Áries e touro na mesma constelação literária.
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