quarta-feira, 9 de janeiro de 2019

vida e morte cabralina


"O amor comeu minha paz e minha guerra. Meu dia e minha noite. Meu inverno e meu verão. Comeu meu silêncio, minha dor de cabeça, meu medo da morte."
Esta maravilha de texto é a fala final do personagem Joaquim, do poema Os três mal-amados, publicado no livro homônimo, 1943, do grande João Cabral de Melo Neto, o mais milimétrico de nossos poetas.
O rigor estético de sua poesia, os poemas avessos como um cão sem plumas, as rimas toantes de seus versos como lâminas, toda essa arquitetura de a palo seco parece se aplicar até nas datas do dia e da noite de sua vida, do inverno e do verão de sua existência nos agrestes de Recife, do começo de tudo e do fim do nada: hoje ele faria 99 anos, e num mesmo dia 9, na sequência do mês 10, de 1999, o poeta partiu para a pedra do sono. Tinha 79 anos.
Livrou-se de uma vez por todas das aspirinas que tomava diariamente, desde a juventude, para uma dor de cabeça crônica do medo morte.

Nenhum comentário: