Carlos Drummond de Andrade não entendia como alguns poetas tornavam um poema definitivo logo na primeira escrita, impulsionado pela inspiração, sem conviver mais com os versos, com a ideia, com a construção.
Um poema precisa de um tempo para moldar um corpo, o espaço necessário para o abstrato recém-chegado nele se estruturar e permanecer vivo.
Em Procura da poesia (trechos acima), uma espécie de metapoema, Drummond questiona o eixo fundamental do poeta sobre a criação. A narrativa em metalinguagem, aparentemente “professoral”, é uma reflexão sobre o fazer-poético, onde o eu-lírico não pode se precipitar na pessoalidade, no peremptório conduzido pela ingenuidade dos sentimentos. A matéria-prima é a palavra, e esta, não lapidada, em “estado de dicionário”, corre o risco de um sentido apenas denotativo, frio, sem graça e encanto - efêmero.
Publicado em 1945 em A Rosa do Povo, é um dos mais belos poemas da língua portuguesa, fundamental na obra do autor e do modernismo brasileiro, por sua essência de cartilha poética, e, sobretudo, confessional, ao contrário de imperativo como se possa deduzir. A poesia é urgente, mas o poema não tem pressa.
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