Yuka foi um ativista da não violência, do desarmamento, lutava por igualdade e justiça, e seu enfrentamento por consciência social ia além do discurso, principalmente depois que ficou em cadeira de rodas.
De cada um dos três discos em que participou na banda, no mínimo sete de doze faixas são letras de sua autoria. O forte cunho social e ideológico que caracteriza O Rappa, numa mescla de rock, reggae e rap, tem em Marcelo Yuka o seu idealizador, mesmo depois de sua saída em 2002, por, segundo consta, divergências conceituais e discussões por dinheiro com o restante dos músicos. Continuou seu ativismo com outra banda, F.UR.T.O, 2005, sua vida relatada no documentário No caminho das setas, de Daniela Broitman, 2012, uma espécie de certidão biográfica no livro Não se preocupe comigo, 2014, e um sintomático comunicado no álbum solo Canções para depois do ódio, 2017.
As letras de Yuka eram, ou melhor, continuam sendo de uma beleza poética na denúncia social como pouco se viu nas composições da música brasileira nesses últimos vinte anos. Essa imponência e encanto marcam-se a partir dos títulos das canções, como Todo camburão tem um pouco de navio negreiro, incluída no primeiro disco da banda, 1994. Lado B Lado A, terceiro álbum, gravado em 1999, é o mais consistente em letras e belamente melódico, envolvente, orgânico no sentido em que todas as faixas compõem um manifesto pela paz e justiça social. Minha alma (A paz que eu não quero), é ao mesmo tempo compêndio e resumo conceitual do disco.
Yuka tinha apenas 53 anos até antes de ontem. Sua obra continuará. Seus versos se propagarão pela memória e permanência. Recados tão conscientes, atentos e fortes, continuarão, como o aviso "a carne mais barata do mercado é a carne negra", brado retumbante de Elza Soares, ao cantar sua letra A carne, no disco Do cóccix até o pescoço, 2002.