quinta-feira, 19 de outubro de 2023

versos em alto mar


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Em 1938, o jovem de 24 anos Marcus Vinicius da Cruz de Melo Moraes, o futuro 'poetinha', ganhou uma bolsa do Conselho Britânico para estudar língua e literatura inglesas na Universidade de Oxford.

Em setembro daquele ano, a bordo do navio Highland Patriot, escreveu o belamente dolorido Soneto da separação, motivado pela saudade da namorada Tati, que se tornaria sua primeira esposa.
Os versos partem de uma ausência, e não exatamente de uma ausência que nos parte quando tudo, “de repente, não mais que de repente”, se faz “triste o que se fez amante”. Mas por licença poética, e desespero de causa mesmo, se conjuga nas duas ausências... quando se faz “da vida uma aventura errante”.
Vinicius saltava sem rede de proteção em todos seus relacionamentos. E tornava-se afetivamente dependente e incurável. Toda sua poesia cauciona essa dedicação e arrebatamento. Afinal, aquela a quem se ama “é como o pensamento do filósofo sofrendo”, delineia no poema A brusca poesia da mulher amada, também de 1938.
Quando morava em Itapuã, nos anos 70, o poeta chegava às vezes ao atelier do amigo Carlos Bastos, amuado e deprimido. O artista plástico, preocupado, via naquele sessentão um adolescente apaixonado. Dizia para não se entregar tanto, “se distancie um pouco para amar melhor”. Mas Vinicius queria apenas ser ouvido, com carinho, não escutar conselhos. A obstinação sentimental do poeta era parte essencial do amor, como insumos para amar “muito e amiúde” e “morrer de amar mais do que pude”.
E no amor, como no samba, é preciso um bocado de tristeza, senão, não se faz um samba não.
Hoje, 110 anos de seu nascimento. Imortal, posto que é chama.

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