Foto: Abed Khaled / AP Photo
Provisoriamente não cantaremos o amor,
que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos.
Cantaremos o medo, que esteriliza os abraços,
existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro,
o medo grande dos sertões, dos mares, dos desertos,
o medo dos soldados, o medo das mães, o medo das igrejas,
cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos democratas,
cantaremos o medo da morte e o medo de depois da morte,
depois morreremos de medo
e sobre nossos túmulos nascerão flores amarelas e medrosas.
Congresso Internacional do Medo, de Carlos Drummond de Andrade, publicado em Sentimento do mundo, 1940.
À época em que foi escrito, as bombas da Segunda Guerra Mundial faiscavam nos céus da Europa e respingavam no céu itabirano do coração do poeta. Tão longe, tão perto. Como agora, quando não se canta o amor nos céus do Oriente Médio. Apenas o medo, apenas a dor. O medo que nos chega pela Internet na velocidade mortal dos misseis.
Belchior citou o poema em sua canção Populus, no disco Coração selvagem, 1977: “No congresso do medo internacional / ouvi o segredo do enredo final (...) Documento oficial em testamento especial / sobre a morte, sem razão”. O medo sempre ameaçou o mundo, porque tudo está sempre em suspense com a estupidez humana. O uso transversal das repetições. O alerta permanente.
Na dramática imagem abaixo, mulheres e crianças palestinas feridas aguardam ser atentidas nos escombros do que sobrou do hospital al-Shifa, na cidade de Gaza, atacado ontem por um míssil. De Israel ou da Jirad Islâmica, a insanidade como documento oficial eliminou centenas de abraços submersos em medo.
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