domingo, 1 de outubro de 2023

juntando-se aos bons

Ilustração: Rodrigo Rosa, 2016

Em um trecho de uma das obras máximas da literatura brasileira, Grande sertão: Veredas, de Guimarães Rosa, 1956, o personagem Riobaldo, no contexto de um confronto, percebe que um companheiro, vindo das bandas do rio Urucuia, “fazia tempo que não se arredava de mim, sempre me seguindo, por perto.”
Salústio é o nome do urucuiano, Riobaldo soube. “Quê que é? Tu amigou comigo?!”, perguntou, solevando desconfiança. O homem, meio sem jeito, “coçou a barriga com as costas dobradas da mão”. Riobaldo insiste. Bate com a mão direita na canhota do outro: “Ao que me quer?”. O jagunço, com seus olhos miúdos na cara redonda, de pronto se explica:
- Ao assistir o senhor, sua bizarrice... O senhor é atirador! É no junto do que sabe bem, que a gente aprende o melhor...”
Destaco essa passagem (página 322, edição da Nova Fronteira, 1984), porque sempre leio em postagens na Internet um aforismo caipira creditado a Guimarães Rosa: “É junto dos ‘bão’ que a gente fica ‘mió’”. A frase não consta em nenhuma obra do escritor. É uma falsa atribuição.
Possivelmente originária do universo dos ditados populares e por expressar similaridade com o "minerês", mas não roseano, o equívoco se instalou, replicado pela superficialidade da pressa das redes sociais. 

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