O crítico de cinema Luis Carlos Merten disse uma vez que ninguém faz filmes sobre a família como os italianos. O ferroviário (Il ferroviere), clássico do neorrealismo, dirigido por Pietro Germi, 1956, é uma prova dessa tese.
Através dos problemas de trabalho e de família que passa um maquinista de trem, o filme desenvolve um verdadeiro painel da sociedade italiana da época, ainda se recompondo dos destroços da Segunda Guerra.
Mas o núcleo familiar é o tema (e a síntese): a esposa sofredora e resignada, um filho desempregado, uma filha infeliz no casamento, e um garoto de 10 anos no meio disso tudo.
Esse garoto, ao mesmo tempo que está perdido, contorna situações através de seu ponto de vista e de sua sensibilidade de criança observadora. O personagem do menino, interpretado por Saro Urzì, é o fio condutor do filme, e sua ligação com o pai é o que enlaça a construção narrativa.
Pietro Germi ao desenvolver o roteiro, teve o propósito de homenagear o pequeno ator Enzo Staiola, por sua atuação em Ladrões de bicicleta (Ladri di biciclette), de Vittorio De Sica, 1948. E conseguiu. Nessa ótica, o filme centraliza toda dramaticidade na relação pai e filho, assim como fez De Sica.
O produtor, visando o mercado internacional, para o personagem do maquinista colocou no projeto o nome do ator norte-americano Spencer Tracy, vindo de dois sucessos recentes, o western Lança partida, de Edward Dmytryk, e Conspiração do silêncio, um suspense ambientado no fim da Segunda Guerra, dirigido por John Sturges
Pietro Germi, o pai da história, daquele menino e daquela família, puxou o freio e ameaçou cancelar tudo se a ele não coubesse o papel. Além de dirigir o filme, comandaria a locomotiva. E também conseguiu. O cinema neorrealista italiano puro-sangue sobre o trilhos.
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