Há 161 anos, na tarde de 27 de agosto, o empresário norte-americano Edwin Laurentine Drake, conhecido como "Coronel Drake", fez jorrar o líquido negro das entranhas de 23 metros de profundidade. O arrojado Edwin construiu, aos 49 anos, a primeira torre de petróleo do mundo, na região centro-atlântico da Pensilvânia, hoje um dos estados mais industrializados e urbanizados dos Estados Unidos.
Naqueles meados do século 19, o posteriormente chamado "ouro negro" era apenas um mero, mas bem-vindo, combustível para acender lamparinas. Não demorou muito, quase nada no tempo, para o precioso líquido ser destilado com mais precisão e produzir carburantes como querosene etc e tal. O resto é história. Bem sabemos. E bebemos diariamente o óleo nosso de cada dia em que morremos, da luz ondulante dos candeeiros de 1859 às profundezas bilionárias do pré-sal.
Um dos filmes mais representativos sobre os tempos de mudança com a chegada do petróleo é Giant, dirigido por George Stevens, de 1955, no Brasil adequadamente intitulado Assim caminha a humanidade.
Baseado no romance homônimo de Edna Ferber, prolífera escritora e dramaturga conhecida pela consistência social temática em suas obras, o filme é ambientado no Texas, no começo dos anos 20, e narra a história de várias gerações de uma mesma família, tendo como pano de fundo as transformações de um país com a descoberta e consolidação do tal “ouro negro”. Para criar o astuto Jett Rink, personagem que enlaça toda a narrativa, a autora inspirou-se em parte pela extraordinária história da vida da pobreza à riqueza do magnata do petróleo Glenn Herbert McCarthy, um imigrante irlandês, a quem conheceu pessoalmente. Edna hospedou-se no famoso hotel de sua propriedade, o Shamrock Hilton, no livro e filme ficcionado como Hotel Emperador.
Giant é costurado com a conflituosa relação amorosa entre três personagens, a jovem de temperamento forte Leslie Benedict, vivida por Elizabeth Taylor no esplendor de seus 23 anos, o rico fazendeiro Jordan Benedict, interpretado pelo já influente Rock Hudson, que impôs à produção sua amiga Taylor em vez de Grace Kelly, como queriam, e o citado Jett Rink, literalmente encarnado pelo belo, vindouro e crepuscular James Dean, substituindo o "shane" Alan Ladd, que se recuperava de uma cirurgia.
O enredo consegue de forma magnífica mostrar a "involução" do ser humano em analogia com o que seria "evolução" e progresso com o advento do petróleo. A produção hollywoodiana, por outro lado, foi divulgada como um legado contra a intolerância racial, por pontuar essa contenda entre alguns personagens. E isso é latente no desenrolar na história.
Retrato épico ocidental de uma poderosa família de fazendeiros, Giant delineia na subtrama o racismo de muitos americanos anglo-europeus no Texas e a segregação social discriminatória aplicada contra os mexicanos. E mais: nesse universo de transgressão, o filme envolve a própria luta da personagem Leslie pelos direitos iguais das mulheres enquanto desafia a ordem social patriarcal, muito bem representada na cena em que impõe suas opiniões cortando a palavra dos homens.
Dando substância ao fôlego narrativo de divergências raciais e de emancipação feminina, Giant avança na dissecação desse rebanho humano que segue nas relações amorosas, familiares, nas disputas econômicas, sem medir esforços e dispostos a desconhecer valores de grandeza do combustível que jorra do coração das pessoas.
Em Giant, James Dean tem mais uma marcante atuação dramática. Foi o seu terceiro filme, precedido pelo icônico Juventude transviada de Nicholas Ray, e pela releitura bíblica de Vidas amargas, de Elia Kazan.
O ator não assistiu a sua formidável última quimera. Seu coração selvagem tinha pressa de viver. Morreu jovem numa curva do caminho quando seu Porsche 440 a 135 quilômetros por hora completou o seu destino.
O gigante James Dean, assim como o perfurador de poços Edwin Laurentine Drake, não viram até que ponto a humanidade descaminhou.
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