sexta-feira, 21 de agosto de 2020

eu sou, eu fui, eu vou


"Há muito tempo atrás na velha Bahia / eu imitava Little Richard e me contorcia / as pessoas se afastavam pensando / que eu tava tendo um ataque de epilepsia".

O bom e eterno Raul Seixas, na faixa de abertura de seu último vinilzão, A panela do diabo, que gravou com Marcelo Nova, lançado no começo de 1989.
Das doze músicas, oito foram compostas e cantadas pelos dois, inclusive a citada, Rock'n'roll, num dueto que expressa o saudável encontro do conterrâneo admirador e seu ídolo. A letra é uma maravilha de curtição nos rockzinhos que surgiram na década de 80. A dupla reverencia o rock-and-roll genuíno, e ousa dizer “que nunca vi Beethoven fazer / aquilo que Chuck Berry faz”, nem o banquinho e o violão bossa-novista escaparam, "bosta nova pra universitário / gente fina, intelectual / oxalá, Oxum, dendê oxossi de não sei o quê".
Mas Maluco Beleza sabia como e onde cutucava, sabia onde tem raiz de um no tronco de outro, "não importa o sotaque / e sim o jeito de fazer / pois há muito percebi que Genival Lacerda / tem a ver com Elvis e com Jerry Lee".
Em 10 de abril 1989 Raul e Marcelo Nova fizeram um show em Brasília, no então Gran Circo Lar, onde hoje está a nave branca do Museu Nacional da República Honestino Guimarães (foto acima, de Kika Seixas). Visivelmente debilitado com seu estado de saúde, e mesmo com a voz trêmula, encantou e agitou a plateia com o seu brilho de grande artista.
Voltaram à capital federal no dia 10 agosto do mesmo ano para show de encerramento do II Festival Latino-americano de Arte e Cultura, no Ginásio Nilson Nelson. Dez dias depois Raulzito partiu na sombra sonora de um disco voador.
31 anos hoje que Raul Seixas não morreu.

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