foto William Gottlieb, Three Deuces, Nova York, 1947
No conto O perseguidor, de Julio Cortázar, publicado em 1958, na coletânea As armas secretas, o personagem Johnny é um dos maiores saxofonistas do mundo, criando um estilo de jazz que não se consegue definir com clareza, tocando o coração de todos. O outro lado do homem é um Johnny extremamente perturbado, viciado em drogas, que perde seu saxofone no metrô de Paris, e se desespera por não ter como comprar outro para o show que fora contratado na capital.
O conto foi diretamente inspirado no músico americano Charlie Parker. Cortázar era fã de jazz e apaixonado pela música de "Bird", assim apelidado o saxofonista, título do filme biográfico dirigido por Clint Eastwood em 1988, com a atuação perfeita de Forest Whitaker.
A beleza de suas composições misturava harmoniosamente estilos do clássico ao latino. Dessa melodia e ritmo tão próprios, dos movimentos sincopados e improvisados, Parker criou o bebop, tornando-o uma espécie de pai do desenvolvimento conceptivo do jazz.
Tudo em Charlie Parker foi precoce e sofrido. Aos 11 anos ganhou da mãe um saxofone. Fez uma poupança para presentear o instrumento ao filho, que demonstrava talento para a música. O propósito era tirar o menino de uma tristeza que cortava-lhe o coração: Parker não se conformava com o abandono do pai. Casou-se com apenas 15 anos, quando também começou a usar drogas pesadas, e arrasado com a morte da filha aos dois anos de idade, por fibrose cística, e por não poder pagar o tratamento, o músico tentou suicídio, afundou-se mais no vício, tentou clínicas de reabilitação.
A biografia Bird, the life and music of Charlie Parker, escrita pelo historiador de jazz Chuck Haddix, lançada em 2013, faz uma pesquisa minuciosa e corrige várias desinformações criadas sobre sua vida, revelando tudo e sem julgar nada.
Na tarde de 12 de março de 1955 Charles Parker foi encontrado morto num quarto de hotel em New York. O avançado estado de pneumonia, úlcera hemorrágica e cirrose culminou num ataque cardíaco. O médico legista, que não conhecia o músico, e diante o estado do corpo, anotou que aquele senhor teria uns 60 anos. O pássaro tinha 34.
foto William Gottlieb, Three Deuces, Nova York, 1947
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