domingo, 8 de março de 2020

feminino plural - 8 de março

“Lembro de Dandara, mulher foda que eu sei
de Elza Soares, mulher fora da lei
lembro de Marielle, valente e guerreira
de Chica da Silva, toda mulher brasileira”

Em 2018 a cantora e pandeirista Silvia Duffrayer ia comemorar seu aniversário em um bar no Catete, Rio de Janeiro, quando o proprietário avisou que o grupo de samba que se apresentaria naquele dia, furou a agenda.
- Como assim? Vou fazer uma roda só de mulheres, então! E vai se chamar Samba Que Elas Querem.
Pronto! O que foi decidido num impulso, tornou-se um grupo roda de samba formado por nove cantoras e instrumentistas que começou fazendo sucesso na internet com Nós somos mulheres, paródia de Mulheres, composição do mineiro Toninho Geraes, gravado por Martinho da Vila, no disco “Tá delícia, tá gostoso”, 1995.
Escrita pela então aniversariante Silvia e Doralyce Gonzaga, elas avisam que a versão não é uma resposta à composição original, e sim, um grito da luta das mulheres.
Mas é ótimo o que é grito e é resposta:
- enquanto eles lá cantavam que ”procurei em todas as mulheres a felicidade”, elas aqui dizem “eu não sei porque eu tenho que ser a sua felicidade / não sou a sua projeção, você é que se baste”;
- enquanto eles citam “mulheres cabeças e desequilibradas / mulheres confusas, de guerra e de paz”, elas rebatem “mulheres cabeças e muito equilibradas / ninguém está confusa, não te perguntei nada”;
- enquanto eles afirmam que “você é o sol da minha vida, a minha vontade”, elas decretam “meu corpo minhas regras agora mudou o quadro”.
O autor das Geraes e o interprete da Vila, caladinhos ouviram, caladinhos gostaram.
Os shows do Samba Que Elas Querem lotam as ruas, os bares, os palcos, viram encontros e porta-vozes necessários do protagonismo feminino nesse mundão contaminado pelo patriarcado, endossado por esse governo miliciano-machista-neopentecostal.
No repertório, além de músicas autorais, clássicos de Dona Ivone Lara, Jovelina Pérola Negra, Clementina de Jesus, e deles sambistas, também. “A gente não adota um discurso de exclusão. Se quiser juntar à turma, será bem-vindo. Desde que mereça esse espaço”, diz Silvia.
Hoje e todos os dias, todos juntos na luta e no samba que elas querem!

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