foto ©Renato Mangolim
No final de 2018 estreou no Rio de Janeiro, a peça A peste, baseada no romance homônimo de Albert Camus, dirigida por Vera Holtz e Guilherme Leme, seguindo depois para outras capitais.
Escrito durante a Segunda Guerra Mundial e publicado em 1947, a Magnum opus do escritor franco-argelino, uma espécie de “versão romanceada da filosofia existencialista”, como bem definiu recentemente o professor Arnaldo Godoy, livre-docente pela Faculdade de Direito da USP, descreve a história que se passa em Oran, cidade no litoral mediterrâneo da Argélia, assolada por uma epidemia, devastando os habitantes progressivamente.
A excelente montagem teatral centraliza a narrativa no personagem principal, o médico Bernard Rieux, que, em um dia qualquer, ao sair de casa depara-se com um rato morto, e pede ao porteiro do prédio para retirá-lo. Outros aparecem, e ninguém se importa, até o mal chegar às pessoas.
Estruturado em um monólogo, com atuação perfeita de Pedro Osório (foto), a peça desenvolve contornos contemporâneos para apontar e refletir o desmoronamento moral da sociedade e os avanços dos governos de ultradireita, pontuações que estão no original de Camus, na analogia que faz à ocupação nazista na Europa.
Assim como no livro, a montagem de Holtz e Leme espelha também a reavaliação de pequenos gestos que nos mantém juntos no cotidiano, a urgente solidariedade que precisamos ter como resistência diante os flagelos e o autoritarismo. Reflexão oportuna neste momento no mundo inteiro, e especialmente no Brasil, quando temos a infelicidade de um despresidente-alma sebosa no planalto central do país, desdenhando a gravidade de uma pandemia, encarnando a brutalidade da peste ao tomar atitudes genocidas contra a população.
Hoje celebra-se o Dia Mundial do Teatro, em referência a inauguração do Teatro das Nações, em Paris, 1961. Também se comemora no Brasil o Dia do Circo, em reverência a data de nascimento, em 1897, do paulista Abelardo Pinto, conhecido como palhaço Piolin.
Ao Teatro e ao Circo, àqueles que nos palcos entregam-se de corpo e alma em seus trabalhos, e assim “dão coerência aos sonhos”, como dizia Luigi Pirandello, minha ternura e gratidão mais profundas, lá do pré-sal do meu coração.
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