"Aceite uma ajuda do seu futuro amor
pro aluguel.
Devolva o Neruda que você me tomou
e nunca leu.”
- Versos de Trocando em miúdos, de Chico Buarque, gravada no disco com o seu nome, 1978, uma enviesada rima de combinação de vogal oral com uma nasal na canção para a amada separada.
Musicada por Francis Hime, a composição por pouco não foi liberada pelos censores da ditadura, que viram na menção a Neruda, que pertencia ao Partido Comunista Chileno, uma grave ameaça de subversão. Chico Buarque achou um absurdo, argumentou que não havia perigo nenhum na citação. Era um livro de poesia.
Afinal, a letra fala de uma separação amorosa, de uma partilha afetiva-cultural, resolvida ali mesmo na sala, longe do desgaste da Vara de Família. Em comum acordo que ele ficaria com o disco do Pixinguinha, o peito dilacerado estava aceitando numa boa a impressão que já ia tarde, nem bateria o portão fazendo alarde quando saísse, ela ficaria protegida com a medida do Bonfim, que para ele não funcionou.
Em última instância, o compositor explicou que a moça sequer leu o livro, até pediu para devolvê-lo. Não se sabe se de fato o exemplar foi restituído ao ex-marido, mas o guardião de plantão do Serviço de Censura, diante da argumentação de Chico Buarque, carimbou e devolveu a letra liberada.
Trocando em miúdos, sem trocadilhos, o que foi resolvido com o casal na letra da música, não foi tão amigavelmente com os censores. Contenda litigiosa mesmo. Chico Buarque precisou de advogado para intermediar.
Na foto, Neruda em sua casa em Isla Negra, onde escreveu tantos poemas, muitos que estão no tal livro vai e vem do casal separado.
116 anos hoje de nascimento poeta.
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