foto Menahem Kahana / AFP
Quando Franz Kafka morreu, em 1928, aos 41 anos, seu amigo e também escritor Max Brod, tornou-se seu biógrafo e testamenteiro. Organizou e publicou muitos de seus escritos, entre eles Amerika e Narrativas do espólio. É dele Franz Kafka, a biografia, publicada em 1934 e reeditada quarenta anos depois.
Poucos conheceram tão bem o escritor tcheco quanto Max Brod. Há quem o considere um canalha traidor, porque Kafka pediu-lhe no leito de morte que queimasse seus papéis pessoais e obras incompletas, por considerar sem muita qualidade.
Max Brod prometeu mas não cumpriu. E a "traição" trouxe à Literatura obras como O processo e O castelo. Obras que muitas vezes foram lidas nos originais pelo autor ao amigo e alguns poucos mais chegados. Kafka era de uma timidez patológica, e Max Brod não descansou enquanto não publicou os inéditos e lhe dedicou uma biografia.
Max Brod morreu 40 anos depois de Kafka, no final de 1968, em Tel Aviv, onde morava.
Com ele ficaram mais de 40 volumes com documentos, cartões postais e objetos pessoais do escritor. Relíquias que não foram levadas a público, e que continuaram em segredo nas mãos da secretária de Brod, Esther Hoffe.
Essa senhora faleceu em 2007, aos 101 anos, lá mesmo em Israel. Foram outros cabalísticos 40 anos após a morte do patrão.
Estudiosos de Kafka temiam pelo estado físico desse tesouro. Esther Hoffe morava em um apartamento úmido, mal cuidado, ao lado de cachorros, gatos, e talvez baratas kafkanianas. Nada mais irônico.
O patrimônio literário ficou sob responsabilidade da filha, Eva Hoffe, que faleceu em 2018, aos 85, e agora a Biblioteca Nacional de Israel é guardiã dessa raridade, sobrevivida aos processos de metamorfoses. No começo deste ano o curador de ciências humanas da Biblioteca, Stefan Litt, anunciou que os inéditos serão digitalizados e abertos ao público em todo o mundo, o que está sem previsão de data por conta da pandemia.
O rico acervo reúne além de manuscritos surpreendentes, como um artigo em hebraico sobre uma greve em 1922 de professores em Jerusalém, desenhos feitos pelo escritor, como fossem croquis de cenas imaginadas em suas obras.
Curiosamente, numa analogia simétrica no tempo, dos anos 20 aos 2020, rabiscos de personagens em isolamentos em seus quartos.
Kafka presente nos 137 anos de seu nascimento que se comemora hoje, sem podermos sair de casa.
Acima, Stevan Litt com um dos cadernos de desenhos.
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