quarta-feira, 1 de julho de 2020

a outra face de Brando

Em 1961 o ator Marlon Brando realizou seu único filme como diretor, A face oculta (One-Eyed Jacks).
Baseado no conto A autêntica morte de Hendry Jones, 1956, de Charles Neider, é um típico western de traição, perseguição e vingança entre os cowboys. O escritor, ucraniano naturalizado norte-americano, faz referência à história do caçador, agente alfandegário e xerife Pat Garrett, que ficou famoso por ter matado o lendário fora-da-lei Billy The Kid, personagens que foram retratos mais diretamente no clássico filme com título com seus nomes, dirigido por Sam Peckinpah, em 1973.
Em A face oculta o enredo segue uma ação mais como uma alusão ao gênero, abrange um conceito mais reflexivo sobre bandido e mocinho, embora mantenha visivelmente o perfil dos célebres personagens. Brando recebeu elogios pelo estilo inovador, com planos longos e ritmo lento, incomuns cenários à beira-mar, ângulos coreográficos em cenas de duelo.
O projeto de características grandiloquentes e ousadas na estrutura narrativa, conduzido pela Paramount Pictures, tinha Stanley Kubrick como diretor, que não fechou contrato e foi substituído pelo ator, vindo de sucessos recentes, como Vidas em fugas, Sayonara, além de interpretações que molduraram uma espécie de efígie no início de sua carreira, Viva Zapata, Julio Cesar, Sindicato dos ladrões e O selvagem.
A estreia do ator na direção, que se dividiu no papel principal, o bandido Rio, deu prejuízo à produtora, rodando muito mais do que deveria. Faltou à Marlon Brando um pouco da destreza de Kubrick, já com grandes filmes em cartaz, entre eles Glória feita de sangue e Spartacus. Mas o resultado foi surpreendente e deu ao ator o reconhecimento de ser um notável diretor de um filme só.
Depois da dupla experiência, Marlon Brando decidiu ficar brilhando somente nas frentes das câmeras. Do filme seguinte, O grande motim, a atuações marcantes, como em O poderoso chefão, O último tango em Paris, Apocalipse now, até seu último trabalho em Superman – O retorno, o ator manteve-se como um ícone na história da cinematografia mundial. “É o marco no cinema. Há o 'antes de Brando' e 'depois de Brando'”, como disse Martin Scorsese em entrevista no documentário Brando, de Mimi Freedman e Leslie Greif, 2007.
Nos anos 80 o ator se afasta dos holofotes e passa a morar em uma ilha na Polinésia, de onde só saía para filmar. Recluso, enfrentou problemas pessoais, como o julgamento do filho por assassinato do namorado da irmã, que, deprimida, se suicidou em 1995.
Muito além do peso, com sérios problemas de saúde, Marlon Brando tinha 80 anos quando faleceu no dia 1º de julho de 2004.
Curiosamente, nessa mesma data, cinco anos depois, faleceu seu amigo Karl Malden, ator que interpretou em A face oculta o comparsa que trai o personagem Rio. Marlon Brando colocou como condição Malden no elenco no lugar de Spencer Tracy, escolhido pela Paramount.
Karl Malden ficou na Califórnia, no Village Memorial Park Cemetery, onde estão outros famosos, como Marilyn Monroe. Brando teve suas cinzas espalhadas no Taiti e Deserto de Mojave.
Marlon Brando e o diretor de fotografia Charles Lang no alto do comando de A face oculta.

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