sexta-feira, 17 de abril de 2020

o porto de Saraceni

O clima de cidade do interior fluminense, a quietude e decadência de fábricas paradas, um convento em ruínas, o barulho enferrujado de uma estação de trem, um parque de diversões vazio... uma mulher que quer se livrar do marido opressor, machão, chato... um amante que se nega a cometer um crime...
Esses são elementos narrativos que dão grande força poética, em que pese o enredo trágico da história, ao tratamento cinematográfico que o diretor Paulo César Saraceni imprimiu em Porto das Caixas, de 1962, seu primeiro longa (prêmios de crítica, direção, roteiro e trilha em festivais brasileiros, Prêmio Semana da Crítica em Cannes), baseado na história original de Lúcio Cardoso, o grande escritor mineiro que teve ainda outros livros adaptados pelo cineasta, A casa assassinada, 1970 (troféus Candango de filme e diretor no Festival de Brasília), e O viajante, 1998 (premiado em Brasília, Miami e Moscou), fechando a chamada "trilogia das paixões". Mãos vazias, outra grande obra de Cardoso, de 1938, foi transposta magnificamente ao cinema por Luiz Carlos Lacerda, em 1971, e o último filme com Leila Diniz.

Porto das Caixas é um dos títulos seminais do Cinema Novo. A presença de Reginaldo Faria e Irma Alvarez no elenco, a câmera de Mário Carneiro e os longos planos, a música de Tom Jobim, realçam a composição de um cinema que ousava com uma proposta diferente do que se via nas produções da Atlântida e Vera Cruz.
Nessa época foi assinado o Manifesto Cinemanovista, juntamente com Glauber, Alex Viany, Nelson Pereira dos Santos, Joaquim Pedro de Andrade, Cacá Diegues, Ruy Guerra...
Saraceni partiu para outros portos em abril de 2012, aos 80 anos.

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