“Um radical entre moderados, um franco entre dissimulados, ele defendia – publicamente e em qualquer lugar (de bordéis a residências de ricos mercadores) – uma revolução que tornasse Minas Gerais independente de Portugal. ‘Era pena’ dizia o alferes, ‘que uns países tão ricos como estes [as Minas Gerais] estivessem reduzidos à maior miséria, só porque a Europa, como esponja, lhe estivesse chupando toda a substância’”.
- Trecho do livro Boa Ventura! A corrida do ouro no Brasil (1697-1810), do jornalista e escritor Lucas Figueiredo, página. 295, lançado em 2011. Com uma pesquisa de precisão cirúrgica na história do Brasil, o autor relata como nossas riquezas minerais foram roubadas e pulverizadas para a Europa pela Coroa Portuguesa durante o Império.
Antes, condutor de tropas de animais, transportador de mercadorias, minerador, mercador ambulante, Joaquim José da Silva Xavier ficou mais conhecido pela profissão de dentista amador, Tiradentes, mesmo tendo como estabilidade a única profissão que lhe deu certo, a de alferes, uma espécie de patente abaixo da de tenente, na cavalaria de Dragões Reais, a força militar atuante na Capitania de Minas Gerais e subordinada à Coroa.
Tiradentes tem destaque importante no livro de Figueiredo justamente por relatar sua revolta contra o Visconde de Barbacena, nomeado Governador da Capitania, que representava a constante retirada das riquezas da região por meio de impostos excessivos, 20%, o que ficou chamado “o quinto”, equivalente ao total extraído.
Em meados do século 18, a extração do ouro caiu, mas o imposto não! O déspota de Barbacena imponha castigos físicos aos mineradores que se recusavam a pagar o absurdo. E mais: aqueles que não podiam, foram obrigados pela Coroa a cobrirem com partes de suas posses, o que tivessem de valor, para continuar os 20%. Foi o estopim para Tiradentes partir para a luta, reunir uma turma bacana de revoltados, como os poetas Cláudio Manuel da Costa e Tomás Antônio Gonzaga, e conspirar para derrubar o governo do Visconde.
Mas no meio das ruas de Vila Rica, tinha uma pedra na Inconfidência Mineira: o traíra José Silvério dos Reis, que entregou os companheiros. Assim como Judas, foi um dos notórios pioneiros da delação premiada. Silvério faz parte de uma linhagem de almas sebosas, parido no ninho de presigárgulas, esse gambá de Troia,
Tiradentes foi o único da turma inconfidente que recebeu pena de morte, pela forca. E a mando da barbárie da Coroa Portuguesa, decapitado e esquartejado, “para que os súditos nunca se esquecessem da lição”, como mencionado no livro Lucas Figueiredo.
Ironicamente, foi Castelo Branco, o primeiro presidente do regime militar, que um ano após do Golpe de 64, sancionou a lei que instituiu o dia 21 de abril como feriado nacional, em referência a Tiradentes como Patrono da Nação Brasileira. O marechal quis dar um ar republicano.
Acima, reprodução do quadro óleo sobre tela de Leopoldino de Faria, do século 19, exposto no Museu da Inconfidência, Ouro Preto, retratando A Resposta de Tiradentes ao Desembargador Rocha, no Ato da Comutação da Pena aos Companheiros, Depois da Missa, popularmente conhecida como Sentença de Tiradentes.
O título da postagem é um verso de Exaltação à Tiradentes, de autoria de Mano Décio da Viola, Estanislau Silva e Penteado,1949.
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