foto Otto Bettmann/Bettmann Archive
Em 1947 o escritor e roteirista Dalton Trumbo foi convocado a comparecer perante o Comitê de Atividades Não-Americanas da Câmara no Congresso dos EUA. Quando lhe perguntaram se era comunista, respondeu com firmeza ao inquisidor: "Você deve ter alguma razão. Pode perguntar”. E recusou-se a dizer quem em Hollywood era de esquerda.
Era época de “caça às bruxas”, o macartismo, comandado pelo senador republicano Joseph McCarthy, que se prolongou até 1957, perseguindo numa paranoia desvairada, com atuação da patrulha ostensiva de J. Edgar Hoover, do FBI, todos aqueles considerados “ameaça às instituições estadunidenses” pela suposta e mínima associação de qualquer indivíduo simpatizante de esquerda.
O principal alvo das suspeitas foram funcionários públicos, educadores, sindicalistas, e trabalhadores da indústria do entretenimento, os atores, cineastas e roteiristas. As invasões bárbaras do poderio norte-americano sempre foram bélicas e culturais. O cinema como indústria é uma arma quente na logística deles, dominador de efeito dopante, com o gás paralisante dos "happy ends". Monitorar os roteiristas, criadores de histórias etc e tal, fazia parte dessa política.
Dalton Trumbo é um dos maiores exemplos de resistência às perseguições aos artistas. Foi colocado na lista negra dos “dez hostis à Holywood”. Lista essa que se ampliou para mais de 250 nomes, que incluíam famosos como Zero Mostel, Charles Chaplin, Orson Welles, Edward Dmytryk, Lillian Hellman, Lee J. Cobb, Sam Jaffe, Allen Ginsberg...
Baseado na biografia Trumbo, escrita por Bruce Cook, 1977, o filme Trumbo: Lista Negra (Trumbo), de Jay Roach, 2015, relata o drama do roteirista em uma atuação marcante de Bryan Cranston, que concorreu ao Oscar de Melhor Ator naquele ano e perdeu para o regressado Leonardo DiCaprio.
De 1947 até 1958, para burlar a perseguição, os cinco roteiros que Trumbo escreveu teve que assinar com pseudônimos. Somente em 1960, ao adaptar o livro Spartacus, de Howard Fast, para Stanley Kubrick dirigir, foi quando voltou a usar seu nome.
Dalton Trumbo, que faleceu aos 70 anos de ataque cardíaco na manhã de 10 de setembro de 1976, é autor de um dos mais densos, angustiantes e importantes livros antibelicistas da literatura mundial, Johnny vai à guerra, de 1939, adaptado para o cinema em 1971, dirigido por ele. Foi sua única incursão por trás câmeras. Tão valiosa quanto a escrita.
Na foto acima, Trumbo, naquela tarde do interrogatório, levanta-se do banco de testemunhas, e acompanhado dos dois advogados de defesa, Robert Kenny e Bartley Crum, vai até a mesa do chefe inquisidor e grita: “Este é o começo do campo de concentração americano!”. Dá meia volta e foi para casa continuar seus roteiros.
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