“Quando fui menina
me davam banho apressado
como se me salvassem
de um naufrágio”,
me davam banho apressado
como se me salvassem
de um naufrágio”,
lembrava Lina quando pequena em Cataguases. Saiu das montanhas das minas gerais e no rio de tantos janeiros sobre as raízes do lirismo peninsular, empinou
“nos ares a mão
como se entregasse a alma
a quem me abre a porta
desta casa”.
Com o uso da palavra e domínio da metáfora, entre a poesia e a cátedra, sua voz segue para o planalto central e ignora
“...o que me cabe
(por promessa ou exílio)
em outra semeadura,
para talhar o meu rosto
na movediça ilusão”,
pois com tantos livros, seguida de tantos leitores, diante tantos alunos na universidade, sua simplicidade sabe que
“pela palavra que traspasso
- aquém ou além de Brasília –
em sonho-enigma permaneço indefinida.
Puro centauro”.
“De repente, a vida partiu-se:
não havia mais gato.
Naquela tarde, amei a palavra
que caíra da beirada de meu corpo:
exceto.”
Nas últimas horas desse dia 1º, partiu, traspassou a vida a poeta mineira-brasiliense Lina Tâmega del Peloso. Corro para a estante para pegar o livro que ela me enviou em 1983, Entretempo, de Brasília para Fortaleza, como se pudesse alcançá-la para um abraço de despedida.
Agora aqui na mesma cidade, revejo a dedicatória tão afetuosa ao aprendiz de versos vespertinos, com “a alegria edênica desse dia, nos espaços do coração”, como escreveu o que neste instante releio ao chorar.
Recoloco o livro na estante, assim como agora a autora volta para seu espaço edênico.
“A saudade é o chão de minha vida”, poeta Lina.
Nenhum comentário:
Postar um comentário