terça-feira, 22 de setembro de 2020

o filho de Odaléia


Gonzaguinha tinha dois meses de idade quando foi retirado dos braços da mãe, Odaléia dos Santos, e entregue aos padrinhos, um casal amigo de Gonzagão, Dina e Henrique, que moravam no Morro de São Carlos, no Estácio, Rio de Janeiro.

O propósito era preservar a saúde do bebê: a mãe contraíra tuberculose, a chamada “peste branca” naqueles anos 40, doença contagiosa, fatal, uma sentença. Até os dois anos de idade, Gonzaguinha via a mãe em rápidas visitas. E o pai também pouco encontrava, no começo de carreira, fazendo shows, já antecipando “minha vida é andar por esse país...”

Odaléia era compositora e cantora da noite, de dancings, não abria mão de sua arte, tinha posturas determinadas e avançadas para a época, recusava-se a ficar em casa, bela e recatada, como queria Gonzagão. Depois de meses e meses internada em sanatórios em Petrópolis e Santos Dumont, Minas Gerais, Odaléia não resistiu à doença. Tinha apenas 22 anos.

Apesar de muito criança, Gonzaguinha nunca esqueceu a mãe biológica. As lembranças ficaram no tato das retinas, no terreno do peito que tossia: o cantor contraiu tuberculose já adulto, como o sangue materno ainda correndo nos afluentes do tempo, como uma genética afetiva que os ligava.

Em 1978 Gonzaguinha gravou em seu LP Recado, a canção Odaléia, Noites Brasileiras, uma das mais belas homenagens de um filho para a mãe que nunca partiu em suas noites, continuou a “estrela guia”, “o retrato guardado em meu quarto”.

“Saiba Odaléia pequena / te ouço / te vivo / te amo”, finaliza a canção do filho que hoje faria 75 anos.

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