Em 2018 o cineasta italiano Nanni Moretti estava em Santiago, Chile, e soube que a embaixada de seu país teve papel importante para os opositores de Pinochet. Logo após o golpe que bombardeou o Palácio La Moneda e assassinou o presidente Salvador Allende, muitos militantes buscaram abrigo na sede da representação da Itália.
Durante o início da ditadura sanguinária, centenas de chilenos moraram na embaixada, famílias com crianças ocupando todos os espaços possíveis, em espírito coletivo de solidariedade entre italianos e chilenos. A Itália era governada pelo democrata cristão Giovanni Leone, que concedeu asilo aos refugiados.
O documentário Santiago, Itália, 2019, conta, através de depoimentos e imagens da época, como foi aquele período de desespero e acolhimento. O próprio diretor Nanni Moretti conduz a narrativa, entrevistando políticos, líderes sindicalistas, embaixadores (“Não tínhamos mais controle, as pessoas pulavam o muro da embaixada para entrar”, diz um deles), cineastas que se posicionaram contra a ditadura, como Patricio Guzmán e Miguel Littín, e dois militares que participaram do golpe – um dos momentos mais importantes do filme.
O cineasta conversa com o general Eduardo Iturriaga na cadeia, onde cumpre pena por sequestros e assassinatos durante o governo Pinochet. Tranquilo, nega todas as acusações. Ao final da entrevista, fala para Moretti que não costuma aceitar pedidos para falar daquele período, e somente abriu exceção porque fora informado que o cineasta teria uma visão “imparcial” sobre o assunto. Até então Moretti estava em off na condução das entrevistas, mas aparece nessa cena (vídeo acima) ouvindo o general, e num ponto de corte de sua fala, diz “Mas eu não sou imparcial”, deixando clara sua posição contra a ditadura. O general franze a testa. “Eu não sou imparcial”, repete o cineasta, e olha para alguém da equipe, como um pedido “traduza para ele”.
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