“...e, portanto, pensar nele como um ovo de serpente, que incubado, deverá, em sua espécie crescer perigoso; e matá-lo na casca.”
Fala de Brutus, na peça Julio Cesar, de Shakespeare, escrita em meados do século 16.
A trama gira em torno da conspiração contra o personagem título, que aparece somente em três cenas. Com perfil de psicodrama, patriotismo, amizade e traição, a peça é uma atualíssima reflexão sobre sucessão de liderança e poder, despertando preocupante hipótese de guerra civil .
Da fala de Brutus, o cineasta Ingmar Bergman escolheu o termo “ovo de serpente” para o título de seu único filme de coprodução Alemanha e Estados Unidos, rodado em 1977, fora de seu país, pois o diretor estaria exilado em território alemão por problemas com o fisco sueco.
Ambientado logo após a I Guerra Mundial, o filme é terrivelmente premonitório em seu enredo, ao contar a trajetória de um judeu norte-americano em uma Berlim dos anos 20, arrasada em pobreza e violência, com o caos econômico e político, e um horizonte apavorante nos escombros do que viria na próxima guerra.
O título é apropriadíssimo e apavorante, Das schlangenei/The serpent’s egg, pois trata em toda a narrativa dos contornos do nascente movimento fascista e surgimento do nazismo.
Acima, gravura de Edward Scriven, 1802, Brutus enfrenta o fantasma de César em alusão a uma cena de Julio Cesar, e o ator David Carradine no papel de Abel Rosenberg em O ovo da serpente.
De Skakespeare a Bergman, o ovo incubado rompeu a casca e continua apavorando a humanidade. Inclusive por aqui no lado debaixo do Equador, no Ano 2 da Era Tosca em que estamos vivendo.
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