quinta-feira, 30 de janeiro de 2020

São Linduarte

Em 1960, o lançamento do curta-metragem Aruanda, de Linduarte Noronha, inaugurou o moderno documentário brasileiro. Os 20 minutos de duração fazem um estudo etnográfico e sociológico como pouco visto no nosso cinema.
Narrando a vida de um pequeno grupo de negros, isolado numa região serrana da Paraíba, o diretor registra a vida de descendentes de escravos que fundaram um quilombo na Serra do Talhado. Eles viviam à margem de qualquer outra civilização, sustentavam-se através do algodão, plantado pelos homens, e obras em cerâmica, confeccionadas pelas mulheres.

Em pleno surgimento do Cinema Novo, Aruanda mostrou ao país suas próprias entranhas, interiorano, artesanal e resistente. A narrativa entre ficção e documentário, a concepção de imagens cruas em preto-e-branco, a escassez de recursos de produção, são elementos de quase metalinguagem que enquadram o filme no que se denominou “estética da fome”, formulação artística elaborada e estendida por Glauber Rocha, que comparava o diretor como um neorrealista, um Rossellini do sertão, e o reverenciava como “São Linduarte”.
Noronha nasceu em Pernambuco, mas criou-se e fez carreira como professor, procurador e cineasta em João Pessoa. Seu cinema deu largada a uma geração de documentaristas paraibanos, como Vladimir Carvalho, João Ramiro Mello, Jurandyr Moura e Rucker Vieira.
Neste 30 de janeiro, oito anos que Linduarte partiu para outras aruandas.

Nenhum comentário: