©Ruthenians, 2003
A cantora e compositora Lhasa De Sela nasceu em Nova Iorque e radicou-se no Canadá. Sua ascendência era mexicana e libanesa. Suas canções são fortemente marcadas pelo canto tradicional da música latina, manifestação muito bem exposta em seus dois primeiros álbuns, La Llorona (1998) e The living road (2003). Embora cantasse em inglês e francês, como em seu último CD, Lhasa (2009), era na língua espanhola que ela melhor expressava seus sentimentos. Uma das músicas mais tocantes é Con toda palabra, que abre o seu segundo disco. A interpretação de Lhasa é belíssima e triste, ela disseca lá do fundo do peito o significado de cada palavra, cada verso de uma letra que é poesia autêntica, sem retoques.
Eu considerava que a emocionante interpretação da cantora fosse definitiva. Ninguém poderia cantar como ela todas aquelas palavras. Mas não. Saudável engano. Em julho de 2012 fui surpreendido pela comovente interpretação do cantor Rubi, no show que ele fez em Brasília pelo projeto em tributo ao cinquentenário de Cássia Eller. Eu já estava magnetizado com a sua apresentação, com o desfilar de composições suas e releituras das músicas do Cazuza e, principalmente, Ne me qui te pas, outra tão perfeita quanto a interpretação dolente de seu autor, Jacques Brel, no final dos anos 50. Já me bastava todo esse sentimento que o Rubi nos presenteava no show. Mas o cantor goiano-brasiliense, residente em São Paulo, não nos dispensou de mais emoção: trouxe lá das entranhas, lá do pré-sal do seu coração, todas as palavras da canção de Lhasa. Rubi era peito aberto, “con toda sonrisa, con toda mirada, con toda caricia”. Suave, profundo, dolorido. Minimalista em seus gestos, movia-se no ar no voo que a canção sugere, “me acerco al água, bebiendo tu beso, la luz de tu cara, la luz de tu cuerpo”.
©Áurea Liz, 2012
Impossível sair-se a mesma pessoa depois de assistir a um show de Rubi, esse moço de voz afinadíssima, uma joia rara. Encanta com seu canto. Sublime no palco, com sua beleza ébano, Rubi é um dos maiores cantores brasileiros. A composição mais simples ganha em sua voz a imponência e serenidade de interpretação única. Mais do que interpretação da letra e melodia, Rubi vive o que está cantando, abraça, assume, compartilha o contentamento e o pesar do que sua voz expressa e revela. Um canto da alma. Um corpo que fala na entrega do que a música provoca e incita sentimentos. Por isso, um coração mais atento sai mais revestido de vida depois de ouvir Rubi.
Lhasa De Sela foi embora muito nova, aos 37 anos, no Ano Novo de 2010, abatida por um câncer de mama, logo ali onde pulsava seu coração tão cheio de belas canções. No show em homenagem a outra beleza rara, Cássia Eller, Rubi igualmente venerou com admiração a cantora Lhasa De Sela. Venerou a Música. Venerou-se.
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