Na histórica foto acima, de Ferreira Júnior, um flagrante do Largo do Estácio, bairro da zona central do munícipio do Rio de Janeiro, nos anos 40: o bonde, os automóveis, os sobrados... um dia de paz.
O logradouro, que nos séculos 18, 19, era um dos eixos entre os núcleos primitivos dos sertões e a cidade que se modernizava, entre os engenhos dos Jesuítas e os charcos e pântanos juntos aos morros, com o avanço do tempo tornou-se uma espécie de porta de entrada da zona norte e subúrbios.
Ali, na década seguinte à foto, exatamente no morro do Estácio, nasceu o menino Luiz Carlos dos Santos, filho de dona Eurídice e ‘seu’ Oswaldo, sambista de primeira. O garoto cresceu na favela do morro de São Carlos, berço do samba, a mais antiga do bairro e da cidade, por conta da primeira agremiação carnavalesca, a Deixa Falar, criada pelos moradores em 1928.
“Fui pegando a viola dele, tirando uns acordes, observando. Ele não deixava eu pegar a viola de 4 cordas que era uma relíquia, muito bonita, onde eu aprendi a tocar umas coisas.“, disse em entrevista muito tempo depois Luiz, que se tornou Melodia, sobre o pai Oswaldo, quem o inspirou na música.
O poeta Wally Salomão, um assíduo frequentador do morro, num holiday descobriu o cantor. Se alguém quisesse encontrar Melodia, que o encontrasse no Estácio, bem junto ao paço onde passavam os bondes, e bem junto ao passo do passista da escola de samba.
Wally, sem cansaço e acreditando em Melodia, desceu por todas as ruas, pegou um vapor barato imaginário e o apresentou à honey, honey baby Gal Costa no show que ele dirigia, Fatal, no Teatro Tereza Raquel.
Do amor da morena baiana domingo no espaço resultou a gravação de Pérola negra, no disco Gal a todo vapor, 1972.
O resto é história do negro gato de arrepiar, com sua voz de ébano que veio nos felicitar com atitude na música brasileira.
Luiz Melodia partiu no tsunami da “indesejada das gentes” em 2017, que levou Belchior, Jerry Adriani, Kid Vinil, Loalwa Braz (do grupo Kaoma), Almir Guineto, Karl Hummel (do Camisa de Vênus), e Chuck Berry, Chris Cornell...
Hoje faria 69 anos, bem no compasso, no Largo do Estácio.
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