Foto: autor desconhecido, anos 40, Acervo Arquivo Nacional
Em 1950 o escritor e crítico Artur Lundkvist, membro da Academia Nobel da Suécia, foi convidado por uma companhia marítima para ir à Índia. O navio fez parada de um dia no Rio de Janeiro. Logo no começo da manhã, Lundkvist atravessou as pedras pisadas do cais, na Praça Mauá, e seguiu em direção ao centro da cidade, na Cinelândia. No bolso do paletó, um endereço: Praça Floriano, nº 55, 11º andar. A sala era o consultório do médico e poeta alagoano Jorge de Lima. Intelectual consagrado, com obra relevante na segunda geração do Modernismo, mudara-se para o Rio no começo da década de 30, onde concluiu o curso de Medicina iniciado em Salvador.
Quando o sueco entrou, encontrou o inusitado. Além de bata, estetoscópio e demais material próprio de um consultório, deparou-se com um ateliê de pintura; tudo muito bem dividido no amplo espaço com janelão para o sol fluminense. Jorge de Lima foi também romancista e pintor. E político, eleito deputado estadual em Alagoas e vereador no Rio.
Lundkvist chegou muito entusiasmado para conhecer o autor de Poemas Negros, livro de 1947. Conversaram durante a manhã inteira, desceram para almoçar e voltaram a trocar ideias até o final da tarde, quando o escritor retornou ao navio.
Em Estocolmo, Lundkvist reuniu-se com acadêmicos e chegaram à conclusão que dariam o Prêmio Nobel de Literatura a Jorge de Lima em 1958, pois até o ano anterior a lista de escritores que seriam laureados já estava feita. Mas o poeta faleceu em 15 de novembro de 1953, um ano depois de publicar sua obra máxima, A Invenção de Orfeu.
O poeta tinha apenas 14 anos quando escreveu um dos mais belos poemas da nossa literatura, O Acendedor de Lampiões, publicado em seu primeiro livro, XIV Alexandrinos, 1914. O soneto impressiona pela belíssima composição de imagem que os versos imprimem em nossas retinas, logo no primeiro quarteto: “Lá vem o acendedor de lampiões da rua! / Este mesmo que vem infatigavelmente, / parodiar o sol e associar-se à lua / Quando a sombra da noite enegrece o poente!”.
Jorge de Lima parodiava o sol e associava-se à lua na literatura e nas artes plásticas cuidando da alma, na medicina tratando do corpo.
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