terça-feira, 21 de novembro de 2023

de frente ao Índico


Foto: Alcance Editores, Moçambique

Felizes os homens
Que cantam o amor.
A eles a vontade do inexplicável
E a forma dúbia dos oceanos.
- Eduardo White, poeta moçambicano, um dos maiores de sua geração.
Publicado em seu primeiro livro, Amar sobre o Índico, 1984 (Editora AEMO, Maputo), o poema não tem título, está na página 64, ali no meio, navegando na imensidão de beleza poética. White, filho de português e inglesa, tinha 21 anos quando escreveu essa preciosidade.
O amor redentor, o erotismo lírico, os questionamentos existenciais, marcam a poesia desse observador dos mares, assim como os reflexos da colonização portuguesa, os conflitos políticos, a intensa guerra civil que massacrou seu país nos anos 70.
Com quase 20 livros publicados, nunca encontrei um exemplar no Brasil, desde quando existiam as livrarias, desde quando vasculho em sebos. É preciso importar, viajar, pedir a quem vem de lá depois dos oceanos. Ou navegar de outras formas, nos sites. Fazer como ele disse: “em mim não ambiciono nada em definitivo se não a magia de viajar”, do livro Poemas da Ciência de Voar e da Engenharia de ser Ave (1999).
Eduardo White morreu precocemente, em 2014, vitimado por meningite. Hoje ele faria 60 anos de frente ao Índico, cantando a vontade inexplicável do amor.

Nenhum comentário: