“Vivemos da memória, que é a imaginação do que morreu; da esperança, que é a visão no que não existe; do sonho, que é a figuração do que não pode existir. Nesta trindade de vácuo.”
quinta-feira, 30 de novembro de 2023
Pessoas em Fernando
terça-feira, 28 de novembro de 2023
sabe aquele Lanny?
segunda-feira, 27 de novembro de 2023
pretérito
domingo, 26 de novembro de 2023
quando duas canções se encontram
sexta-feira, 24 de novembro de 2023
poetas do desterro
quarta-feira, 22 de novembro de 2023
com a força do seu canto
terça-feira, 21 de novembro de 2023
de frente ao Índico
segunda-feira, 20 de novembro de 2023
de los cambalaches se ha mezclao la vida
domingo, 19 de novembro de 2023
a imortalidade de Rosa
sábado, 18 de novembro de 2023
a estranha família Mann
“Ao chegar no hotel o choque mais grave. Um telegrama dizendo que Klaus estava numa clínica em Cannes num estado desesperador. Logo em seguida: telefonema de uma amiga sua e de Erika comunicando a sua morte. Ficamos todos juntos num amargo sofrimento. Minha compaixão interior pelo coração materno e por Erika. Ele não podia ter feito isso a elas. (...) Totalmente esgotado, por volta das duas horas, fui para cama.”
sexta-feira, 17 de novembro de 2023
o primeiro romance
impulsos incontidos
quinta-feira, 16 de novembro de 2023
todos os nomes em Saramago
quarta-feira, 15 de novembro de 2023
o acendedor de lampiões
Foto: autor desconhecido, anos 40, Acervo Arquivo Nacional
terça-feira, 14 de novembro de 2023
imprima-se a beleza
segunda-feira, 13 de novembro de 2023
o tempo de Manoel
domingo, 12 de novembro de 2023
a última quimera
sexta-feira, 10 de novembro de 2023
ê bumba-iê-iê boi, ano que vem, mês que foi
quinta-feira, 9 de novembro de 2023
insumos de uma canção
Quando desembarcou em Teresina em 10 de dezembro de 1978 para o show Muito, Caetano Veloso logo lembrou de Torquato Neto. Desde a morte do poeta, em 1972, que o cantor não voltava à cidade, e nem conseguira chorar.
O pai de Torquato,
Heli Nunes, foi visitá-lo no hotel. Já se conheciam do tempo em que ia a
Salvador ver o filho, que estudava na mesma escola de Caetano. “Quando eu o vi,
chorei muito, a dureza amarga se desfez. Ele ficou me consolando e me levou à
casa dele”, relembra o cantor.
Na parede da
sala da antiga casa tinha muitas fotografias de Torquato. Caetano girava a
cabeça e os olhos lentamente, o coração e o tempo profundamente. Seu Heli
olhava o filho no olhar que se iluminava de Caetano. Um silêncio em comunhão umedeceu
a ambiente: Caetano chorava, turvava a lágrima nordestina. Seu Heli passou a
mão paterna em sua cabeça, “Não chore tanto”, disse, sereno. Quase com um caminhar suspenso - ali tudo
parecia ser nuvem - foi até a cozinha, abriu a geladeira, pegou uma garrafa de
cajuína. A bebida que mandava para Torquato em Salvador. Voltou para a sala na
mesma afluência de remanso entre os cômodos. Caetano viu que ele trazia dois
copos. Colocou-os sobre a mesa. O líquido cristalino da garrafa dourou o
silêncio. Seu Heli serviu. Beberam demoradamente, sem nada falarem, eram
naquele momento olhares em intacta retina. Sugaram uma saudade a dois.
Quando
terminaram, seu Heli colocou os copos outra vez sobre a mesa, levantou-se e
foi até ao jardim. Caetano atravessa o olhar pela luz da porta e espera, ainda
mais só. Seu Heli volta trazendo uma cor na mão e estende a Caetano. “Cada
coisa que ele fazia eu chorava mais”, disse sobre aquele homem lindo que lhe
dava uma rosa pequenina.
De volta ao
hotel, o cantor teve a certeza que a matéria vida era tão fina no gesto de seu Heli.
E assim nasceu
a canção Cajuína, gravada no disco Cinema transcendental, 1979. Mesmo quando choramos ausências, ainda existimos, sem
sabermos a que será que se destina.
Hoje, 79 anos de nascimento do menino cristalino de Teresina.
Na foto, acervo da família, Torquato entre os pais, Maria Salomé e Heli, década de 60.