No começo dos anos 70 eu saía do bairro Nossa Senhora das Graças, em Fortaleza, para o prédio da TV Ceará Canal 2, para ver os cantores que participavam do Show do Mercantil, programa ao vivo apresentado por Augusto Borges. Atravessava a cidade para ver bem de perto entrarem pela porta lateral não somente os artistas de fora, convidados eventuais, mas os cearenses que ali no auditório, sempre acompanhados da banda fixa Big Brasa, iniciavam suas carreiras, como Belchior, Ednardo, Fagner, Jorge Mello, Rodger Rogério... e especialmente Pekin. Vindo da banda Os Faraós, onde cantava e tocava guitarra, era o meu ídolo. Tinha algo de especial em sua voz, seu jeito de cantar, de se vestir, e sobretudo, o encanto da simplicidade.
terça-feira, 3 de agosto de 2021
um faraó no meio do Pessoal
fotos Rubens Venancio
Mais de 40 anos depois consigo chegar perto dele, o que nunca foi possível naquelas jovens tardes de sábado. Ontem o entrevistei para o meu documentário Pessoal do Ceará – Lado A Lado B. Após vários contatos telefônicos, e ouvindo o meu relato de fã, a emoção de ambos foi inevitável nesse primeiro e esperado (de minha parte) encontro.
A história de Pekin, um “faraó” vindo do bairro São João do Tauape, se diferencia da trajetória de muitos da gênese do que se chamou Pessoal do Ceará, e que se juntavam ao redor das mesas do Bar do Anísio, reduto afetivo-boêmio-intelectual, todos classe média do circuito universitário.
Na entrevista em sua casa no Conjunto Tabapuá, no limítrofe de Fortaleza e Caucaia, Pekin falou das noites de boemia e cantoria no Anísio na virada dos anos 60 para 70, de seu convívio com o amigo Belchior, com quem morou no Rio de Janeiro e foi parceiro em duas músicas, Uma estrela lá da terrinha e Minha mãe não quer que eu fume, gravadas por José Luiz com acompanhamento de The Fevers, de sua composição Quero ter você, tema de abertura da novela O Profeta, TV Tupi, 1977, de seu único LP, Impossível parar o sol, com arranjos de Lincoln Olivetti, onde fora Paralelas, de Belchior, que produziu o disco, as demais onze faixas são de sua autoria, indo do chorinho ao rock, do samba ao bolero. O disco foi lançado do mesmo ano de Alucinação, 1976.
Péricles Menezes no batismo, bancário aposentado, fora da mídia de todos os pessoais, um CD de produção independente no começo dos anos 2000, cantando uma vez ou outra em bares pela noite, e agora mais ausente por conta da pandemia, aos 69 anos Pekin não demonstra nenhum sentimento de lamúria, quando perguntei se tinha alguma queixa de como as coisas se sucederam no cruel mercado fonográfico e por ser pouco lembrado como um dos que estavam ali na turma que se denominou Pessoal do Ceará naqueles cheios de esperança e fé anos 70. “De jeito nenhum”, respondeu com um impressionante e permanente sorriso nos olhos, “Olha você aqui me entrevistando”, disse com um brilho de alegria espalhado por todo o rosto de ídolo para o seu fã.
Com a equipe coordenada pelo produtor executivo Clebio Viriato, direção de fotografia de Alex Meira e Leo Mamede, captação de som de Afonsino Albuquerque Filho, continuísta Priscilla Sousa, assistente de fotografia Nildo Silva, chefe eletricista Assis Melo, assistente de produção Marcio Marinho e fotografia de cena de Rubens Venancio, Pessoal do Ceará - Lado A Lado B é um projeto com o brilho de alegria, na simetria do tempo, de um fã da história da música cearense. Impossível parar o sol.
fotos Rubens Venancio
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