quinta-feira, 26 de agosto de 2021

de volta ao menino


Ele tinha apenas 14 anos quando no final dos anos 60 foi "assistente do assistente do assistente" de produção do programa Gente Que a Gente Gosta, apresentado por Gonzaga Vasconcelos na TV Ceará Canal 2, sob o olhar de desaprovação do seu tio Guilherme Neto, diretor da emissora, que avisava para a família que não via futuro naquele menino no meio de artistas. E esses artistas eram Ednardo, Fagner, Belchior, Jorge Mello, Rodger Rogério e tantos outros que no palco, ao vivo e em preto e branco, começaram as carreiras de cantores e compositores do que a partir dos anos 70 veio a se chamar Pessoal do Ceará.

"E eu nem deveria estar trabalhando, era um menino!", lembra com uma risada o ator Ricardo Guilherme, um dos mais talentosos e consagrados do teatro cearense. Ele estava no ambiente mágico de televisão porque sabia, tinha certeza que ali era o seu mundo, queria ver e aprender, fazendo de tudo um muito.
Tempos depois, quando aqueles artistas despontaram no cenário musical nacional, Ricardo se deu conta de quanto a vida foi generosa em dar a oportunidade de vê-los no começo de tudo, ouvir canções ainda em versões primitivas, na rusticidade dos primeiros rascunhos melódicos. E daquele menino todos se lembram. Ednardo citou seu nome em entrevista. Fagner se surpreendeu quando, num desses encontros casuais, conversando sobre o programa, Ricardo cantou o tema de abertura de Porque Hoje é Sábado, que antecedeu ao Gente Que a Gente Gosta. Mais surpreso ficou Ricardo quando o cantor disse ser o autor.
Emocionado com o convite para uma entrevista para o documentário Pessoal do Ceará - Lado A Lado B, e contar várias histórias que presenciou com os artistas - "era eu quem anotava os nomes deles para fazer o pagamento", disse com orgulho brilhando nos olhos - Ricardo emocionou-me igualmente ao lembrar de como nos conhecemos em 1981, quando fotografei a peça que dirigiu e atuou, Apareceu a Margarida, de Roberto Athayde, em apresentações em Fortaleza e Brasília. Sete anos depois integrou a equipe do meu primeiro filme, Um cotidiano perdido no tempo, ajudando-me na direção de atores.
"Você me fez voltar ao quase menino que hoje fui, conhecendo os lados A e B da pioneira TV Ceará. Bonito voltar a nós, Nirton."

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