Essa é a letra de Franciscana, de autoria do jornalista Roberto Aurélio, musicada por Ednardo, faixa 3 do lado A do seu disco Berro, de 1976. A musa inspiradora é a assistente social Francisca Barbosa Nepomuceno, a Xica Barbosa nas noites de conversas, música e poesia do icônico Bar do Anísio. Mais do que um reduto, um templo abençoado por Iemanjá na avenida Beira-mar da Fortaleza do final dos anos 60, início dos 70, onde se encontrava aquela turma de menos e de mais de 25 anos de “sonho e de sangue e de América do Sul”, como disse Belchior poucos quarteirões a frente na calçada do tempo em sua canção Apalo seco, e que muitos foram embora pro Rio de Janeiro quando no jogo do bicho deu o carneiro, como preconizou Augusto Pontes no poema-êxodo, também musicado por Ednardo.
quinta-feira, 12 de agosto de 2021
a Franciscana do Pessoal
Chaqualha o chocalho
Xarope pra Chica sair num pinote
Cantando a galope na beira do mar
Franciscana cinzenta, cinzana Francisca
Franzida na cinta com fita de chita
O cheiro pimenta de alho cascalho
O choro no molho de folha cidreira
E o malho no mundo
E o mundo na boca
E este chove e num molha
“Mas eu não fui não, nunca quis ser cantora, nunca tive essas vontades. Fiquei por aqui mesmo”, disse-me Xica em entrevista para o documentário Pessoal do Ceará - Lado A Lado B. E ela cantava, voz bonita, incentivada por todos, como registram várias matérias de shows em recortes de jornais que ela me mostrou, folheando as páginas com um sorriso de saudade tranquila. “Nós íamos ao Anísio em uma época que os amigos serviam como fonte de esperança e resistência”, avalia ao se referir aos tempos difíceis de ditadura militar, do golpe dentro do golpe com o decreto do AI-5.
Sentindo-se emocionada por estar – muito merecidamente – no documentário, a Xica de folha de cidreira, que de chinela chaqualhava o chocalho e inspirava os poetas cantando galope de versos na beira do mar, pontua com a fala e brilho no olhar em fazer parte de “um registro da nossa história musical e de nossa geração”.
Sobre a composição Franciscana , musa e autores entrecruzam suas versões no filme que em breve estará concluído e será lançado inicialmente em Fortaleza, numa semana com debates, palestras, apresentações musicais, exposição do material de trabalho. Foram dez anos de pesquisa, elaboração do projeto, tentativas de financiamento, e filmagens que estão acontecendo graças ao edital da Lei Aldir Blanc de Audiovisual da Secult-CE, nessa retomada que iniciou neste mês no meio dos cuidados e perplexidade de uma pandemia e caos político.
Com a equipe coordenada pelo produtor executivo Clebio Viriato, direção de fotografia de Alex Meira e Leo Mamede, captação de som de Afonsino Albuquerque Filho, assistente de fotografia Nildo Silva, chefe eletricista Assis Nunes, assistência de produção de Leyla Alencar e Marcio Marinho, stil e making of de Rubens Venâncio, o documentário é um projeto que se inspira no tempero da história desse pessoal com “chêro pimenta de alho cascalho”.
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