fotos ©Rubens Venancio
O projeto do documentário longa-metragem Pessoal do Ceará – Lado A Lado B, faz uma pesquisa analítica de 10 anos da música cearense, em um recorte de 1969, com o país assolado por um golpe militar e a decretação do Ato Institucional n.º 5, a efervescência no campo político-social manifestando-se nos movimentos estudantis, muitos deles ligados à música, com ênfase no que foi Pessoal do Ceará, de onde se destacaram nacionalmente nomes como Fagner, Ednardo, Belchior, a 1979, com o evento musical Massafeira Livre, criado por Ednardo e o jornalista e publicitário Augusto Pontes, que durou três dias no Theatro José de Alencar, em Fortaleza, e gerou um LP duplo, em 1980, apresentando novos compositores e cantores.
Para cobrir de forma crítica e minuciosa um recorte de dez anos na história da música cearense, foram igualmente dez anos de pesquisa, elaboração do projeto, tentativas de financiamento, e filmagens, graças agora ao edital da Lei Aldir Blanc de Audiovisual da Secult-CE, que estão acontecendo nessa retomada que iniciou hoje com a entrevista com o arquiteto e letrista Fausto Nilo, no meio dos cuidados e perplexidade de uma pandemia.
Na entrevista, Fausto, em um relato com uma precisão de traços de arquiteto com pão e poesia, fez um desenho do percurso dos bares que aquela turma no final dos anos 60 fazia do circuito da universidade, no Benfica, até chegar ao Bar do Anísio, no final da beira-mar, “hoje um arranha-céu horrível”, diz o arquiteto, com um lamento, sua opinião sobre o que se denominou Pessoal do Ceará, termo que ele elegantemente não concorda, “segrega, regionaliza”, diz, seus primeiros encontros com Belchior, sua relação com Petrúcio Maia, as histórias hilariantes com Augusto Pontes, as longas conversas com Claudio Pereira, como conheceu Brandão, “é o maior poeta dessa geração”, fala com um indisfarçável olhar de saudade, o disco Soro, produção de Fagner, no qual ele participou da concepção gráfica e gravou em duo com Núbia Lafaiete a faixa Coração condenado, composição sua com Stelio Valle e Graco Braz Peixoto, o álbum duplo Massafeira, que ele considera “um descobrimento” com a revelação de tantos talentos naquela virada de década na cena musical cearense, quando lhe perguntei se a partir dali existiu uma chamada geração Massafeira.
Muito mais Fausto falou, muito mais veremos-ouviremos no documentário que estará pronto em novembro.
Com a equipe coordenada pelo produtor executivo Clebio Viriato, direção de fotografia de Alex Meira e Leo Mamede, captação de som de Afonsino Albuquerque Filho, continuísta Priscilla Sousa, assistente de fotografia Nildo Silva, chefe eletricista Assis Melo, assistente de produção Marcio Marinho e fotografia de cena de Rubens Venancio, Pessoal do Ceará – Lado A Lado é um projeto que tanto preferi sonhar, que me fez atravessar águas difíceis de um rio até aqui, e está lavando minh’alma de alegria a cada take cantado.
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