sábado, 28 de agosto de 2021

por que você faz cinema?


fotos Leo Mamede

Para chatear os imbecis.
Para não ser aplaudido depois de sequências, dó de peito.
Para viver a beira do abismo.
Para correr o risco de ser desmascarado pelo grande público.
Para que conhecidos e desconhecidos se deliciem.
Para que os justos e os bons ganhem dinheiro, sobretudo eu mesmo.
Porque de outro jeito a vida não vale a pena.
Para ver e mostrar o nunca visto,
o bem e o mal, o feio e o bonito.
Porque vi 'Simão no deserto'.
Para insultar os arrogantes
e poderosos quando ficam como 'cachorros dentro d'água' no escuro do cinema.
Para ser lesado em meus direitos autorais.

Em 1987 o jornal francês Libération fez a pergunta acima, no título, ao cineasta brasileiro Joaquim Pedro de Andrade. A resposta foi esse ótimo texto, refletindo as dificuldades e garra de filmar os roteiros do Terceyro Mundo, como dizia Glauber Rocha.
No processo de finalização do documentário Pessoal do Ceará - Lado A Lado B, peguei-me várias vezes com essa reflexão do grande diretor de Macunaíma. Para cobrir de forma crítica e minuciosa um recorte na história da música cearense, da gênese no final dos anos 60 do que veio a se chamar Pessoal do Ceará no cenário musical brasileiro, aos quatro dias de som, imagem, movimento e gente da Massafeira Livre, em 1979, no Theatro José de Alencar, em Fortaleza, foram dez anos de pesquisa, elaboração do projeto, tentativas de financiamento, e filmagens, que agora, graças ao edital da Lei Aldir Blanc de Audiovisual da Secult-CE, estão na última semana, em meio aos cuidados de uma pandemia e caos político de um pandemônio.
Com a equipe coordenada pelo produtor executivo Clebio Viriato, direção de fotografia de Alex Meira e Leo Mamede, técnico de som Afonsino Albuquerque Filho, continuísta Priscilla Sousa, assistente de fotografia Nildo Silva, chefe eletricista Assis Nunes, assistentes de produção Marcio Marinho e Leyla Alencar, edição de Rui Ferreira, stil e making of de Rubens Venancio, Pessoal do Ceará – Lado A Lado B é um projeto que me fez atravessar águas difíceis de um rio, e está lavando minh’alma de alegria a cada take cantado, enfrentando as adversidades de uma sempre cara produção cinematográfica e a distopia atual que esse desgoverno alma sebosa imprime diariamente. Desde sempre desisti de desistir.
Precisamos de comida, educação e arte, e não de fuzil. De outro jeito a vida não vale a pena. Por isso fazemos cinema.

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