sábado, 14 de agosto de 2021

a musicista que amava todos


foto Kazane Blues

Na manhã do dia 6 deste mês, sexta-feira, toco a campainha da casa da minha amiga musicista Izaira Silvino, no bairro Cidade dos Funcionários, em Fortaleza. Há três meses tínhamos combinado a entrevista para o documentário que estou finalizando, Pessoal do Ceará - Lado A Lado B. Izaíra foi a primeira a interpretar uma composição de Fagner, Luzia do algodão, parceria com Marcus Francisco, no I Festival de Música Popular Aqui no Canto, em 1969. Contente pelo convite para falar no filme sobre como tudo isso aconteceu, conversamos várias vezes por telefone, sempre disposta, com sua doçura de voz. “Tô meio adoentada, mas a gente vai conversar, viu? Amo tu”, dizia sempre antes de desligar.

Quando voltei para a calçada para dizer a equipe, que descarregava os equipamentos dos carros, que não haveria filmagem, jamais imaginei que minha ida foi para me despedir dela. Não havia condições para entrevistá-la, mesmo ela querendo, tão solícita, tão sorriso agora estancado em seu rosto por ainda estar “meio adoentada”. “Tenho uma foto nossa daquele dia”, disse-me quando falei que a última vez que nos vimos foi no lançamento do meu livro na livraria Lamarca, em fevereiro de 2019.
De volta com a agenda desfeita, um silêncio dolorido dentro do carro. Escrevi-lhe uma mensagem no WhatsApp que combinaríamos outro dia para a entrevista, e que seria somente em áudio. “Amo você, Nirton. Aceito tudo”, respondeu.
No dia 21 de maio, numa das várias mensagens que sempre trocávamos, perguntei se poderíamos gravar a entrevista no mês de agosto. “Ah, querido. Graças a Deus! Agosto é o mês do meu aniversário. Se Deus quiser estarei bem nesse mês. Prefiro que você sugira uma data e horário, ok? Disponha!”, escreveu. Dias depois, numa mensagem em que relatava seu estado de saúde, terminava dizendo que “tenho certeza que estarei pronta para a entrevista na primeira semana de agosto. Você vai escolher o dia e o horário! Ok? Pode ser? Amo você, Nirton querido!”
Amanhã, dia 15, Izaíra completaria 76 anos. Não teve tempo para comemorar. Partiu em silêncio no começo desta noite de sábado. Emudecidos com a notícia, seu sorriso paira entre nós. O sorriso agora cristalizado na saudade. Tornamo-nos eternos no coração de quem nos quer bem. Nós a amamos, Izaíra. Amo tu, Izaíra. Amo você, Izaíra. Todos os pronomes numa mesma nota regida pelo seu sorriso, querida maestrina.
Na foto de 2014, minha alegria emoldurada pela gargalhada de Izaíra e sua irmã, a cantora e compositora Aparecida Silvino.

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