foto ilustrativa de Christian Coiny
"Há uma forma de literatura em que o 'eu' não existe. Onde estamos mergulhados no desconhecido, do outro lado da montanha. Gostaríamos de poder voltar para casa e dizer 'eu'. Ou mesmo 'nós', porque uma mulher espera lá, por nós. Vamos chamá-la de Penélope.
A viagem é longa, talvez sem fim, continuamente perigosa. Cruzamos com todos os tipos de criaturas. Inclusive sereias.
Vocês reconheceram Ulisses e a Odisseia? Para voltar para casa Ulisses navega de ilha para ilha, em um mundo perigoso e incerto.
O preceito de James Joyce para escrever com sucesso foi: 'silêncio', 'exílio' e 'astúcia'.
- E o amor, onde fica? – pergunta um aluno.
- O amor não tinha sido inventado ainda."
Trecho de Incidences, 2010, romance de Phillppe Djian, através do personagem Marc, professor de Literatura.
Ulisses, de 1922, é reconhecidamente a obra mais importante do irlandês James Joyce. Sua literatura se estende no princípio do modernismo poético. O romance, ambientado em 1904, faz uma série de analogias, através de 18 episódios, do personagem Leopold Bloom ao narrar durante 19 horas seguidas acontecimentos de sua vida, com o personagem Ulisses do clássico poema épico de Ilíada e Odisseia, de Homero, século 8 a.C.
A menção dos dois autores de séculos tão distantes no livro do contemporâneo escritor francês Phillippe Djian, é interessante pela contextualização que faz do fluxo de consciência dos personagens, a concepção de múltiplos aspectos do ser humano, a força e a fraqueza de toda a humanidade. Leopold Bloom é o Ulisses moderno, herói e covarde, prudente e impetuoso.
No livro de Joyce, Bloom faz seus relatos no dia 16 de junho. Por conta disso é comemorado hoje na Irlanda o Bloomsday. Amantes da literatura promovem diversos eventos em Dublin, muitos caracterizados com as roupas do personagem, em desfile pelas ruas, encontros nas livrarias e clubes de leituras.
Essa curiosa celebração a um personagem da literatura acontece desde os anos 50, embora alguns estudiosos afirmem que iniciou após a morte de Joyce, em 1941, ou até bem antes, logo depois da publicação do livro.
Pelas limitações causadas pela pandemia, é a primeira vez que as homenagens estão canceladas. Provavelmente farão em Lives, não sei, para não deixar Leopold Bloom em exílio do outro lado da montanha. O amor precisa sempre ser reinventado.
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