Em 2006 a prefeitura da capital italiana, através da Cineteca Nazionale, financiou a restauração do filme Roma, cidade aberta (Roma, città aperta), obra-prima de Roberto Rossellini, marco do neorrealismo.
A cópia foi apresentada no 63º Festival Internacional de Cinema de Veneza, em agosto daquele ano, e fez parte das comemorações do centenário de nascimento do cineasta, falecido em 3 de junho de 1977.
Rodado em pleno final da Segunda Guerra, 1945, o filme é ambientado entre 1943 e 1944. Roma, ocupada pelos nazistas, é declarada cidade aberta, a fim de evitar bombardeios aéreos. Comunistas e católicos unem-se para combater os alemães e as tropas fascistas. O enredo retrata a ação de um grupo de resistentes liderados por dois amigos (Marcello Pagliero e Nando Bruno), que têm apoio de um padre (Aldo Fabrizi) e participação decisiva da mulher de um deles (Anna Magnani). Os militares acabam por encontrá-los e desmantelam o grupo. O filme é belo e trágico.
Roma, cidade aberta apresenta todos os elementos que conceituam um cinema feito de maneira clara, direta, saindo dos estúdios e filmando em locações onde aconteceram os fatos, com não-atores compondo o elenco. Rossellini usou verdadeiros soldados nazistas como extras, na intenção de dar mais efeito às cenas. As primeiras imagens são reais, captadas com uma câmera oculta. São também mostrados soldados do Eixo, carros bélicos e tanques de guerra antes de ser iniciada a história em si, e lá pelo meio do filme aparecem outras cenas reais, semelhantes às primeiras, inseridas no contexto cronológico.
Essa estrutura narrativa, desobrigada da dramaturgia, proporcionada a improvisos, dá ao filme a impressão legítima que é mais flagrado do que desempenhado. A ficção com a técnica do documentário. Ou como fosse um documentário com cenas ficcionais.
Rossellini foi mais desafiador nessa feitura de construção de uma história do que Vittorio De Sica no ótimo Ladrões de bicicleta (Ladri di biciclette), sempre lembrado como símbolo do movimento neorrealista, filmado em 1948, ainda sob os escombros de Roma.
Roberto Rossellini iniciou com Roma, cidade aberta a trilogia da guerra, seguido um ano depois por Paisà (Paisà), e concluída em 1947 com Alemanha, ano zero (Germania, anno zero).
Os clássicos da cinematografia são sempre restaurados em nossa memória quando os revemos.
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