O guitarrista e compositor Keith Richards, em um capítulo da autobiografia Vida, 2010, página 89, lembra que quando estudou no Sidcup Art College, em Londres, o diretor colocou os alunos como figuras num jardim geométrico para uma foto de lembrança ao término do curso. A ideia era homenagear o filme de Alain Resnais lançado naquela data, 1961, Ano passado em Marienbad (L'année dernière à Marienbad), que os professores consideravam a mais elevada forma de arte e vanguarda.
Richards, que tinha como colega de sala, Michael Philip Jagger, e como bom provocador que já gostava de ver as pedras rolando, disse que aquele filme era “o auge do existencialismo cool e da presunção", o que não deixa de ser uma definição curiosa.
Ano passado em Marienbad, com roteiro do escritor e cineasta Alain Robbe-Grillet, um dos expoentes do movimento literário Nouveau Roman, é um jogo estimulante numa narrativa caleidoscópica. Três personagens centrais, em quatro perspectivas de tempo, espaço e memória, conduzem o filme, cada um expondo fatos e situações que aparentemente são distintas, e que se entrelaçam à proporção que se confundem. Não há um enredo linear. Mas a construção, ou desconstrução, experimental de Resnais, provoca no espectador uma montagem emocional ao discutir amor e solidão. Não é fácil assimilar. Nada é convencional. É, sem dúvida, a mais radical obra de Resnais, se compararmos com Hiroshima, meu amor, Providence e Meu tio da América. É o puro-sangue da Nouvelle Vague.
Além da curtição do jovem Richards, o filme causou rebuliço na imprensa e crítica no lançamento no Festival de Cannes. Foi motivo de muitas sessões e discussões no que se denominou "cinema de arte" de lá pra cá.
Falecido em 2014, Resnais completaria hoje 97 anos. Por conta do ano presente em pandemia, algumas homenagens foram canceladas.
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