De 1984 a 1986, numa das ruas transversais do tempo de Taguatinga, cidade-satélite na região administrativa do Distrito Federal, um teatro de bolso pulsava as veias abertas de arte e resistência: o Rolla Pedra. Tancredo Neves partira estranhamente e a chamada Nova República nas mãos do maribondo de fogo Sarney, contextualize-se.
Naquele pequeno espaço imenso de vida, rolaram as pedras da música, da poesia, das artes cênicas, de todas expressões impossíveis de se conter: Legião Urbana, Plebe Rude, Capital Inicial, Rubi, Liga Tripa, Beth Ernest Dias, Renato Matos, Paraibola, Miquéias Paz e dezenas de tribos artísticas seminais na cultura brasileira.
O poeta e arte-educador Paulo Kauim, um pernambucano cabralino no Planalto Central, dedicou longos e apaixonados treze anos na história do espaço transgressor, pontuando no percurso dos dois intensos anos de existência as manifestaçõs culturais anteriores à inauguração. Entrevistou remanescentes, fez escavações em revistas, jornais, arquivos pessoais, na memória de quem guarda o tempo no tato das retinas. O resultado: Teatro Rolla Pedra: Arte + Utopia Sob Nuvens de Chumbo, um fôlego de 300 páginas de leite bom no coração dos que se querem bem e um tijolaço nas caras dos caretas.
Com o selo da Tagore Editora, o livro, com bela composição gráfica de textos e fotos, foi lançado ontem numa festa de pajelança urbana e afetiva no Clube do Choro de Brasília, com a presença de muitos que rolaram as pedras da utopia em Taguatinga, cantando, abraçando, conversando para continuar espantando qualquer resquício de nuvens de chumbo.
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