sábado, 30 de dezembro de 2023

aquela estrela é a dele



Em 2007 eu estava no Aeroporto Pinto Martins, em Fortaleza, viajando para Brasília. Quando subia a escada rolante para a sala de embarque, ouvi um grito da escada que descia:

- Nirton Venancio!
- Augusto! – Saudei, levantando também o braço, espalmando a mão.
De imediato fiz sinal que ia ao seu encontro. Augusto Pontes, jornalista, publicitário, letrista, foi o grande pensador e articulador da cultura cearense. O que se conhece como Pessoal do Ceará, muito a ele devemos.
Acelerei os últimos degraus e peguei a escada descendo. Ele me esperava embaixo com um sorriso por trás da barbicha. Demos um abraço caloroso e antes que começasse a conversar e perguntar – como sempre fazia, com curiosidade afetuosa sobre a vida dos amigos -, disse-lhe que não poderia perder aquela oportunidade para lembrar de um fato análogo, simétrico no tempo.
Conta o professor Frederico Lustosa da Costa que uma vez, em companhia de Augusto, do jornalista Paulo Linhares e do publicitário Fernando Costa, foram almoçar no Shopping Iguatemi, em Fortaleza. Ao terminarem, quando desciam a escada, do outro lado o então senador Tasso Jereissati com a esposa.
- Com vão, turma boa? – Cumprimentou o político.
- Como sempre, senador. O senhor subindo, a gente descendo – respondeu Augusto, com sua admirável rapidez de tornar uma casual fala em aforismo, axioma, dito espirituoso.
Comentei então que não cairia no descuido de fazer mesmo. “Até porque você sempre descendo também como eu”, disse-me, com uma gargalhada.
Conversamos por alguns minutos tolerantes para o meu horário de embarque. Abraçamo-nos outra vez, ele desejou boa viagem completando com “volte pra cá, precisamos de você”, sabendo que eu estava morando em Brasília.
Lá do alto olhei rapidamente para ele. Com seu andar quixotesco, brilhava feito vida, vento e vela no mar de transeuntes que chegavam e partiam.
Foi a última vez que o vi.
Hoje 88 anos de nascimento do amigo genial de muitos.
Acima, fotograma do documentário Vivência #1 – Augusto Pontes, de Felipe Barroso, 2009.

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