Foto: Guilherme Samora, 2016
Rita Lee, com sua graça e irreverência características, dizia que nascer no dia 31 de dezembro “é sacanagem”, pois levava um ano inteiro literalmente nas costas para no dia do aniversário ficar ouvindo logo cedo “Hoje a festa é sua, hoje a festa é nossa, é de quem quiser, quem vier”. Para compensar se consolava repetindo o ditado “Os últimos serão os primeiros”. Consolo que logo se desfazia quando um primo chato dizia: “Sim, os primeiros a chegar por último!”.
E eis que em uma noite, do terraço do casarão onde morava em São Paulo, a ovelhinha negrinha da família avistou Peter no céu! A menina gritava eufórica. O pai apareceu esbaforido, preocupado:
- Rita, o que está acontecendo?
- Peter Pan! Peter Pan! Eu vi o Peter Pan!
- Onde?
- Logo ali no céu, pai!
- Me conta como era.
- Três luzinhas.
- Ok. De que cor?
- Coloridas.
- O que elas faziam?
- Uma dancinha.
- Ok. Como era essa dancinha?
- Mudavam de lugar uma com a outra.
- O que aconteceu depois?
- Sumiram de repente. Juro que eu vi, pai. Não é mentira!
- Rita, eu acredito em você e vou lhe contar uma verdade: Papai Noel, coelho da Páscoa, Deus e o diabo, céu e inferno, essas bobagens não existem, quem compra os presentes é sua mãe. O que você viu não foi o Peter Pan. Você viu um disco voador, minha filha!
Hoje seriam 76 dezembros. Mas lá dos céus do seu terraço, nos discos voadores piscam as três luzinhas coloridas com seu Peter Pan.