quinta-feira, 13 de maio de 2021

a madrugada de Chet Baker

foto João Pires / Estadão, 19/8/1985

Em 1985 o trompetista e cantor de jazz Chet Baker esteve no Brasil para apresentações no Free Jazz Festival, Rio de Janeiro, e no Palace, casa de shows em São Paulo, hoje extinta.

Naquele ano Baker tinha na banda dois músicos brasileiros, o baixista Sizão Machado e o pianista Rique Pantoja, com quem gravou o ótimo disco Chet Baker & The Boto Brasilian Quartet, em 1980, e o duo Chet Baker & Rique Pantoja, 1987, igualmente ótimo.
A passagem de Chet Baker pelo Brasil é, lamentavelmente, mais lembrada pelo problema que ele teve com drogas no Hotel Maksound Plaza, na capital paulista. Na madrugada do dia 21 de agosto, o doutor Walter Almeida, médico contrato pela produção, que dormia no quarto ao lado, foi chamado às pressas para socorrer o cantor, desmaiado por uma overdose. Reanimado e milagrosamente salvo, o médico teve dificuldades em contê-lo nas terríveis crises de abstinência nos horários antes do show.
A imprensa noticiou a apresentação em São Paulo como decepcionante, frustrante, o que não confere com o testemunho de muitos amantes insuspeitos do jazz, que viram o show e têm outra opinião: um momento inesquecível, impecável.
Esses relatos e muitos outros sobre a vida vertiginosa do talentoso músico, estão no livro No fundo de um sonho - A longa noite de Chet Baker, biografia definitiva escrita por James Gavin, lançada em 2002.
O que não ocorreu naquela madrugada no quarto de hotel em São Paulo, graças ao médico brasileiro, aconteceu três anos depois, na madrugada de 13 de maio, quando Chet Baker caiu-flutuou-levitou de uma janela de hotel em Amsterdan.
Uma queda misteriosa, um triste sopro no silêncio da noite, "in a romantic mist...", como diz a letra de sua canção Let’s get lost.

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