"Até a adolescência, a memória tem mais interesse no futuro que no passado”
- Gabriel Garcia Márquez, em um trecho de Viver para contar, autobiografia lançada em 2002, doze anos antes de sua morte.
Publicou na sequência Memória de minhas putas tristes, 2004, e Eu não vim fazer um discurso, 2010, este com claros traços biográficos ao reunir discursos escritos desde os 17 anos até completar 80.
Em Viver para contar o escritor colombiano, que hoje faria 94 anos, relata o período de infância e juventude, até os 27 anos, em 1954. Neste recorte no tempo e na vida, e estruturado em oito capítulos, Garcia Márquez relata as cidades por onde viveu, de sua natal Aracataca, no litoral caribenho, à capital Bogotá; sua numerosa família de dez irmãos, a relação com seu avô materno, que contava histórias que o fascinavam; seu trabalho como jornalista, que despertou a consciência política e os primeiros sinais de literatura na escrita; os livros e os autores que o influenciaram, de James Joyce a Pablo Neruda; as dificuldades financeiras e as conversas com os amigos, nas livrarias, as bebedeiras noite a dentro... e em todo esse painel de memória, a história da Colômbia, com suas guerras civis e mudanças de poder.
Como se fosse um primeiro volume, a biografia pode parecer frustrante por cobrir um curto período na vida de um dos maiores escritores da literatura mundial, autor de mais de 30 livros, Prêmio Nobel em 1982, contemplado com diversos títulos e condecorações. Mas os vinte e sete anos ali relatados e inventariados, dão o perfil, como um movimento seminal, do escritor e da obra que o consagrou.
Outro livro interessante sobre um período da juventude de Garcia Márquez é Gabo: quatro anos de solidão, sua vida em Zipaquirá, 2012, do escritor e jornalista Gustavo Castro Caycedo, também colombiano. O autor, depois de quatorze anos de pesquisa, relembra o tempo em que o jovem Gabriel viveu, de 1943 a 1946, na pequena cidade a 50 quilômetros de Bogotá, para onde foi enviado pela família para terminar o ensino médio, preparar-se para entrar na Universidade Nacional e estudar Direito. Gustavo Caycedo deixa claro a importância daqueles quatro anos para Garcia Márquez, “pois tudo - incluindo o frio - conspirou para se dedicar ao trabalho para o qual estava predestinado: ser escritor.”
Faz sentido seu aforismo ao dizer que a memória de adolescente tem mais interesse no futuro.
Na foto, o garboso escritor aos 16 anos.
©Acervo Liceo Nacional de Varones, Zipaquirá
Nenhum comentário:
Postar um comentário